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Sapatadas Parte I

Separe-se a diplomacia da Justiça

Já que estamos em época natalícia nada melhor do que falar em sapatinhos. Façamos um exercício de SE. Se os muçulmanos fossem cristãos, neste Natal, provavelmente, pediriam um sapato dentro do sapatinho. Esse sapato seria o modelo “Código 271”, número 43, fabricado, passe a publicidade, na Turquia pela empresa Bayan Shoes Company.

Passo a explicar a razão: na sua última visita ao Iraque, há pouco mais de uma semana, George W. Bush sofreu uma tentativa de agressão quando um jornalista iraquiano, de nome Muntader al Zaidi, arremessou ambos os sapatos contra o presidente americano. Só a perícia de esquiva de Bush, evitou que o improvisado objecto voador atingisse o alvo.

O primeiroministro iraquiano, que se encontrava a seu lado, pediu imediatamente desculpas oficiais e o agressor foi detido, constando que em privado terá levado uns bons safanões. O episódio foi repetido vezes sem conta pelas televisões do mundo inteiro e na internet circulam continuamente imagens do incidente. Os elogios ao gesto de Zaidi vieram de todo o mundo mostrando a impopularidade de Bush na hora da despedida.

Ao fabricante turco saiu-lhe o “El Gordo” – o dos maiores prémios da lotaria de Natal no mundo que se joga em Espanha. A empresa vai rebaptizar o modelo passando a chamar-lhe “Bush” e irá passar de uma produção anual de 30 mil pares para 300 mil. Dez vezes mais! O modelo, que é vendido há cinco anos exclusivamente para o Médio Oriente e Rússia, irá ser distribuído em todo o mundo. Nos Estados Unidos já há mesmo quem tenha comprado os direitos exclusivos. “Desenhei este modelo há dez anos e nunca virou moda. Agora transformou- se num símbolo de ‘democracia’ para o povo iraquiano e sinto-me muito emocionado por isso”, confessou o fabricante que prometeu calçar até ao resto da vida a família do jornalista.

Mas a solidariedade e os elogios ao acto de Zaide correram mundo. Mais de 200 advogados prontificaram-se a defendê-lo gratuitamente. Já há planos para iniciar uma campanha publicitária no Iraque com cartazes a dizer: “Adeus Bush; bem-vinda, Democracia.” Parte da receita irá para a família do jornalista. Sobre a sapatada e o seu protagonista ouviu-se de tudo: “É um herói. Fez o que os líderes árabes não tiveram coragem de fazer”; “devia ser eleito presidente do Iraque”; “O Iraque decreta o Domingo como o Dia Mundial do Sapato”. Inclusivamente, uma das filhas de Kadhafi, que preside a uma instituição de caridade, já disse que o iria condecorar com a “Ordem da Coragem.”

Este episódio do sapato, no mundo islâmico, tem um significado muito mais gravoso do que no mundo ocidental. Para aqueles atirar um sapato a alguém é considerado um grande insulto, pois significa que o alvo tem menos valor que um sapato, que está em contacto permanente com o chão e o lixo.

Não era por acaso que muitos iraquianos, mostrando o seu total desprezo pela figura, arremessavam sapatos à estátua gigante de Saddam que existia no centro de Bagdad antes de os americanos a derrubarem, em Abril de 2003.

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