“Não se pode negar a realização dos sonhos a lutadores. Tal como ansiava e cantava na música “Nilava Kumuka Kaya”, Elsa volta, finalmente, a terra que lhe viu a nascer”. Foi com essas palavras que amigos, familiares e colegas despediram-se, nesta quarta-feira (24), na capela do Hospital Central de Maputo (HCM), da diva da música moçambicana Elsa Mangue, que perdeu a vida na pretérita segunda-feira (22), vítima de doença prolongada.
Trata-se de uma mulher que ao longo dos 56 anos de vida, dos quais 34 entregues a música, reavivou e lutou contra a violência, a discriminação e a marginalização da mulher na sociedade moçambicana. A luta pelos direitos femininos deve-se, para além de identificar-se com essa classe, ao sofrimento a que foi sujeita ainda criança com a sua mãe e os seus quatro irmãos.
Aos 7 anos de idade, altura em que toda a criança deve ser matriculada numa instituição de ensino, Elsa Mangue foi negada o direito à educação pela sua madrasta alegando “que se estudasse podia-me tornar prostituta”. Mas, visivelmente, este era um pretexto para não dar os seus direitos e, de certa forma, ter a mão-de-obra controlada.
Mesmo vivendo no mar de incertezas, Elsa nunca perdeu as esperanças de um dia concretizar os seus sonhos. Desejos que só se concretizaram a partir da década de 80, altura em que chega a Maputo e começa a cantar. E sobre esse momento, o músico moçambicano Wazimbo conta: “Quando Elsa chega a cidade de Maputo pela primeira vez é apresentada na Rádio Moçambique como caloira para lhe acompanharmos.
Então, me lembro de que era uma pessoa muito tímida. Muito mais inibida do que foi quando começou a subir aos palcos. Então dávamos algumas dicas de como estar no cenário, para que encarrasse as pessoas. De facto, naquela altura, nunca pensei que estava a falar com alguém que se tornaria uma diva. Embora, não tivesse um apoio como os outros artistas da época e da mesma estirpe, com suor e dedicação, Elsa tornou-se numa ‘deusa’ da nossa música”.
Entretanto, por seu turno, Domingos Macamo, secretário da Associação dos Músicos Moçambicanos (AMMO), caracteriza a artista como “uma mulher insubstituível. As letras de Elsa eram autênticos preceitos para a sociedade moçambicana”.
E, sobre o acontecido, lamenta: “Infelizmente perdemos a rainha da nossa música. Não há mais nada que se possa fazer, além de continuar com o seu trabalho para que o seu nome se imortalize”.
Contudo, para além das palavras defendidas pelo secretário da AMMO, a conceituada cantora Elvira Viegas acredita que “a cultura tem que ser preservada. E, isso, parte do registo e divulgação do trabalho deixado pela Mangue, para que as crianças possam nascer e crescer a conhecer a história dos ícones da nossa música”.
Após o velório que durou um pouco mais de uma hora, os restos mortais da artista foram trasladados para o distrito de Zavala, província de Inhambane, sua terra natal, onde serão sepultados. E, reconhecendo os seus feitos, é de se acreditar que Elsa Mangue eternamente ficará nos corações dos moçambicanos, pois “quem vai saudades leva e quem fica saudades tem”.
Paz a sua alma!