A Rússia autorizou a utilização de seu espaço aéreo para o trânsito de soldados e material militar americanos com destino ao Afeganistão, segundo os termos de um acordo anunciado pela Casa Branca nesta segunda-feira, por ocasião da visita a Moscou do presidente Barack Obama. Este acordo amplia um documento anterior que não permitia a passagem de material bélico pelo território russo.
Com este acordo, os Estados Unidos vão poder utilizar o espaço aéreo da Rússia para transportar, por meio de 4.500 voos por ano, soldados, armas, munições, peças e veículos, inclusive blindados, sem pagar custos adicionais de navegação nem precisar fazer escala no território russo, destacou um alto representante do governo, que não quis ser identificado. O governo americano ainda economizará 133 milhões de dólares por ano e um tempo precioso no transporte dos soldados e dos equipamentos.
Os Estados Unidos pretendem utilizar estas novas vias para os movimentos de quase todos os soldados americanos indo para, ou deixando, o Afeganistão, frisou o responsável. O acordo também é significativo politicamente porque Obama transformou a guerra no Afeganistão em uma de suas grandes prioridades internacionais e associou a Rússia a este esforço, num momento em que os dois países trabalham para melhorar relações fortemente abaladas durante a presidência de George W. Bush.
A maior abertura do espaço aéreo russo é mais uma expressão do apoio “já importante” da Rússia no Afeganistão, observou a Casa Branca, qualificando Moscou de “membro precioso” da coalizão internacional naquele país. O acordo anunciado nesta segunda-feira permitirá aos Estados Unidos diversificar as vias de transporte para os movimentos de tropas e material para o Afeganistão, ressaltou a presidência americana.
O acordo, que ainda tem que ser ratificado pelo Parlamento russo, deve entrar em vigor 60 dias após sua assinatura, nesta segunda-feira. Tem validade de um ano, mas será prorrogado automaticamente se as duas partes estiverem de acordo. Apesar de a Rússia ter discrepâncias com a diplomacia de Washington sobre diversos temas, está claro que os russos não querem que os americanos vão embora do Afeganistão de maneira prematura. “É um dos poucos problemas em que seus interesses são muito próximos e, inclusive, coincidem”, destaca Fiodor Lukianov, redator-chefe da revista Russia in Global Affairs.
A Rússia teme que os talibãs se aproximem de suas fronteiras e da Ásia Central ex-soviética, onde Moscou mantém interesses cruciais como infraestruturas militares ou o acesso a gigantescas reservas de hidrocarbonetos. “A Rússia não é amiga dos talibãs, já tem seus problemas com uma insurreição islamita no Cáucaso norte”, estima, por sua vez, o analista militar russo Pavel Felguenhauer.