A Rússia acusou, Quarta-feira (19), os Estados Unidos de tentarem influenciar a sua política eleitoral por meio de uma missão de ajuda económica, o que deve causar uma nova crise entre os dois ex-aliados da Guerra Fria após a volta de Vladimir Putin ao Kremlin.
Usando termos duros, a chancelaria divulgou uma nota a explicar a decisão russa, anunciada, Terça-feira (18), pelos EUA, de dar até 1 de Outubro para que a Usaid (Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA) suspenda as suas operações na Rússia.
Os críticos do Kremlin dizem que o objectivo da decisão é suspender a entrega de fundos para entidades que Putin vê como uma ameaça à sua hegemonia política, reafirmada com a sua volta à Presidência depois de passar quatro anos como primeiro-ministro.
“Trata-se de tentativas de influenciar o processo político, inclusive eleições de vários tipos, e as instituições da sociedade civil por meio da distribuição de doações”, disse a nota assinada por Alexander Lukashevich, porta-voz da chancelaria.
Ele disse também que o governo russo está preocupado com a actividade da Usaid nas regiões como o norte do Cáucaso, onde a Rússia enfrenta uma insurgência islâmica que os activistas dizem ser alimentada por abusos políticos e pela truculência política de Moscovo.
A Usaid trabalha na Rússia há duas décadas, desde o colapso da União Soviética, e nesse período já destinou mais de 2,6 bilhões de dólares para programas de saúde, meio ambiente, fortalecimento da sociedade civil e modernização do país.
Putin, ex-agente da KGB no poder desde 2000, repetidamente alerta o Ocidente e especialmente os Estados Unidos a não interferirem na política russa. Ele certa vez comparou os seus adversários a “chacais” que rondam embaixadas e vivem de esmolas estrangeiras.
“Putin sente e sempre sentiu que uma sociedade civil livre e independente é sua inimiga, uma inimiga da imitação de democracia”, disse Oleg Orlov, presidente da entidade de direitos humanos Memorial, que recebe quase metade das suas verbas da Usaid.
“Putin toma-nos como uma ameaça ao sistema que ele construiu no país.” Os Estados Unidos criticaram as recentes eleições russas e a situação do Estado de direito no país, mas rejeitam as acusações de que estariam a influenciar ao financiar instituições de direitos humanos e afirmação da democracia.
As relações entre Rússia e EUA haviam melhorado depois que o presidente Barack Obama tomou posse e prometeu “reiniciá-las”, mas em seguida deterioraram-se novamente por causa de atritos envolvendo questões como a crise na Síria ou a implantação de um escudo anti-mísseis dos EUA na Europa.