Uma revista francesa publicou, esta Quarta-feira (19), caricaturas que ridicularizam o profeta Maomé, mostrando-o nu, o que pode agravar a onda de protestos dos últimos dias no mundo islâmico por causa de um filme ofensivo ao fundador da religião muçulmana. O governo francês, que havia pedido ao semanário satírico Charlie Hebdo que não publicasse as caricaturas, disse que vai fechar escolas e embaixadas da França em 20 países, Sexta-feira (21), tradicional dia de protestos muçulmanos.
Uma força policial está a proteger a sede da revista, cuja nova edição traz na capa a imagem de um judeu ortodoxo a empurrar Maomé numa cadeira de rodas. Nas páginas internas, várias caricaturas mostram o profeta nu.
Uma delas, intitulada “Maomé: nasce uma estrela”, mostra uma figura barbada, a agachar-se para mostrar as nádegas e os genitais. A reação inicial nos países islâmicos foi crítica.
“É claro que isso irá enfurecer ainda mais as pessoas. Vai elevar tensões que já estão perigosamente elevadas”, disse o xeque Nabil Rahim, influente clérigo salafista no Líbano.
“Vamos tentar administrar as coisas e mantê-las pacíficas, mas essas coisas facilmente escapam ao controle. Temo que possamos ter mais ataques contra estrangeiros, e por isso desejo que eles não persistam nessas provocações.”
No Egito, o político Essam Erian, dirigente interino do Partido Liberdade e Justiça, ligado à poderosa Irmandade Muçulmana, disse à Reuters: “Rejeitamos e condenamos os cartuns franceses que desonram o profeta, e condenamos qualquer acção que difame o que é sagrado para as crenças das pessoas.”
Nos últimos meses, vêm circulando na Internet trechos de um filme produzido nos EUA que mostra Maomé como mulherengo, homossexual e abusador de crianças.
Semana passada, os protestos contra esse filme semiamador começaram a tomar conta de países islâmicos, com manifestações diante de missões diplomáticas dos EUA e doutros países ocidentais.
No caso mais grave, no dia 11, o embaixador norte-americano na Líbia e três outros funcionários foram mortos durante uma invasão no consulado do país em Benghazi.
O caso foi parar na campanha eleitoral dos EUA, e motivou um debate internacional mais amplo sobre os limites da liberdade de expressão, da religião e do direito de ofender. Muitos muçulmanos consideram que qualquer representação do profeta Maomé é uma blasfêmia.
O editor do Charlie Hebdo e autor do cartum da capa, Stephane Charbonnier, defendeu a publicação. “Temos a impressão de que é oficialmente autorizado ao Charlie Hebdo atacar a ultradireita católica, mas não podemos tirar sarro de fundamentalistas islâmicos”, afirmou ele à Reuters.
“Isso mostra o clima – todos estão guiados pelo medo, e é exactamente isso que deseja esse pequeno punhado de extremistas que não representa ninguém: deixar todos com medo, trancar todos nós numa caverna.”
Charbonnier previu que a edição terá grande procura, e que a tiragem habitual, de 35 mil exemplares, deve ser duplicada. O chanceler da França, Laurent Fabius, criticou a revista pelo que considerou uma provocação.
“Vimos o que aconteceu, semana passada, na Líbia e noutros países, como o Afeganistão”, afirmou ele a jornalistas. “Temos de pedir a todos que comportem-se de forma responsável.”