A República Checa vai passar nas próximas semanas a também chamar-se oficialmente Chéquia, após a decisão de um comité estatal reunido em Praga que fechou, dessa forma, 25 anos de debates em torno do nome deste país centro-europeu.
“Aconselha-se utilizar o nome simplificado nos idiomas estrangeiros quando não for necessário usar a designação formal do país, como em eventos desportivos ou com fins promocionais”, explicou o comité estatal após aprovar o novo nome.
Ao contrário da Nova Zelândia, que acaba de rejeitar a ideia de uma nova bandeira por meio de um referendo, na República Checa a decisão definitiva foi tomada sem consulta ao povo.
Segundo Vit Korselt, director do Departamento das Américas do Ministério dos Negócios Estrangeiros checo, as pessoas mais velhas são as mais reticentes a esta mudança, pois o novo nome “lembra-lhes ‘Tschechei’, que era usado pelos alemães durante a ocupação nazi”.
Esse nome era uma contração do alemão “Tschechoslowakei” – em português, Checoslováquia, como era chamado o país que surgiu, como outros muitos na Europa, do desmembramento do Império Austro-Húngaro após a Primeira Guerra Mundial. Assim, os nazis “deram um sentido de algo inferior” ao país vizinho, o qual ocuparam a partir de 1938, explicou o diplomata checo.
O próprio Korselt afirmou não ter problemas com o novo nome curto, embora alerte que não está a agradar a todos. “Não me convence. Acho que vai ser confundido com a Chechénia”, opinou o jornalista Martin Carek, editor do portal informativo “Echo24”.
O nome também não agrada à ministra de Desenvolvimento Regional, Karla Slechtova, que argumenta que foi pago muito dinheiro no passado para o logotipo com “República Checa” utilizado no material publicitário da agência estatal de turismo CzechTourism.
Nos seus quase cem anos de existência, o estado centro-europeu de agora 10,5 milhões de habitantes teve vários nomes. De “República Checoslovaca” ou “Estado Checo”, em 1918, passou a “República Checo-Eslovaca” em 1920, e depois, durante a ocupação nazi, a “Protectorado de Boémia e Morávia”, chamado no dia a dia “Tschechei” por muitos alemães.
Após a Segunda Guerra Mundial, foi, de novo, “República Checoslovaca”, e em 1960 passou a chamar-se “República Socialista da Checoslováquia”. Depois da chegada das liberdades democráticas em 1989, transformou-se em “República Federativa Checoslovaca”, e em seguida, pelo bem da pureza linguística e levando em conta os dois povos que compunham o estado, “República Federativa Checa e Eslovaca”. Assim foi até à divisão do país, em 1993, quando o maior dos sucessores passou a chamar-se, simplesmente “República Checa”.
Já naquela época surgiram vozes que queriam uma forma simplificada do nome, mas não tiveram sucesso. Encontrar um nome oficial mais prático foi uma tarefa pendente até agora, quando o ministro dos Negócios Estrangeiros, Lubomir Zaoralek, se transformou no fiel da balança. “Não é bonito que o país não tenha claramente estabelecidos os seus símbolos ou inclusive que não tenha claramente dito como se chama”, declarou Zaoralek ao defender o novo nome.
Em prol da simplicidade, os checos utilizavam até agora duas formas informais abreviadas: “Cesko” e “Cechy”.
Sobre a primeira, Jiri Penas, editor-chefe de Cultura do jornal Lidove Noviny, considera que “é muito feia, não é estética, e está mal”.
Até o ex-presidente Vaclav Havel chegou a dizer que, ao pronunciar “Cesko”, era como se saíssem lesmas da sua boca. No final, optou-se por uma só palavra, “Chéquia”, que não é latina, mas de raízes eslavas, embora tenha-se “latinizado” com a terminação “-ia”.