A partir desta quinta-feira (22) o partido Renamo está a violar o Acordo de Paz e Reconciliação com a existência da sua auto-proclamada “Junta Militar” que, tal como todas as suas bases, deveria ter sido desmantelada ao abrigo do documento assinado por Filipe Nyusi e Ossufo Momade no passado dia 6 de Agosto. Para perigar ainda mais a paz em Moçambique a chefe da bancada parlamentar do maior partido de oposição condicionou o sucesso do Acordo a “integridade, liberdade, justiça e transparência com que forem realizadas as próximas Eleições Gerais”.
A existência de um número não conhecido de militares que ainda não entregou as armas na sua posse e está agrupado na auto-proclamada “Junta Militar da Renamo” é uma violação ao terceiro acordo assinada para a paz em Moçambique que no seu número 5 estabelece que: “O desmantelamento das bases e posições relacionadas com as hostilidades militares deve ser feito em conformidade com o previsto no Memorado de Entendimento sobre Assuntos Militares e concluído, até 21 de Agosto do presente ano.” Aliás dos 5.221 guerrilheiros que devem entregar as suas armas para serem desmobilizados e reintegrados publicamente só quatro o fizeram no passado dia 29 de Julho.
Interpelado na Assembleia da República pelo @Verdade para actualizar o número de guerrilheiros da Renamo que já entregaram as armas o vice-ministro da Defesa Nacional, Patrício José, disse apenas “está-se a trabalhar”.
Entretanto, e ao contrário do porta-voz da formação política que apelidou aos membros da Junta Militar de “desertores”, a chefe da bancada parlamentar do maior partido da oposição disse que são “irmão nossos (…) que querem uma integração, reintegração e reinserção social que os dignifique”. “É assunto de dentro de casa, é assunto da nossa família, são os nossos parentes, são as nossas guerrilheiras, são os nossos guerrilheiros, a Renamo como família vai saber resolver os problemas da sua própria casa”, afiançou Ivone Soares.
O @Verdade apurou que Ossufo Momade deu instruções para ser estabelecido um diálogo com a Junta Militar e que nos próximos dias deverão iniciar negociações entre as partes desavindas do partido Renamo.
“Aprovamos o Acordo de Paz e Reconciliação nacional de Maputo conscientes de que não é o melhor que os moçambicanos poderiam ter”
Mas além da violação ao Acordo de Paz e Reconciliação a líder parlamentar deu outras indicações que a paz definitiva ainda está longe em Moçambique. “(…) O sucesso deste Acordo vai depender da integridade, liberdade, justiça e transparência com que forem realizadas as próximas Eleições Gerais a terem lugar no dia 15 de Outubro de 2019”, afirmou Ivone Soares.
“Aprovamos o Acordo de Paz e Reconciliação nacional de Maputo conscientes de que não é o melhor Acordo que os moçambicanos poderiam ter, mas é o Acordo possível que neste momento temos. Aprovamos conscientes de que nos colocam em teste os pressuposto do Acordo de Paz e Reconciliação nacional de Maputo. Nos colocam em teste porque não somos cegos, temos consciências de que há problemas de fundo que ainda não foram resolvidos, não obstante termos rubricado o Acordo ao mais alto nível na pessoa do General, presidente Ossufo Momade e do Presidente da República. O recenseamento eleitoral que aconteceu foi uma autêntica fachada, uma farsa, que nos coloca dúvidas com relação as eleições que se avizinham”, alertou a chefe da bancada do partido Renamo da Assembleia da República.
Ivone Soares disse ainda que ao contrário do que o Governo diz a implementação do Acordo de Paz e Reconciliação tem impacto orçamental e que a sua formação política tudo fará “para que os 60 milhões de dólares anunciados pela União Europeia para financiar o processo de DDR sejam usados para os fins que visam (…) esperamos que não haja corrupção nem desvio desse financiamento”.
Entrevistada pelo @Verdade, se o seu discurso não estaria a pôr fim ao Acordo que só nesta quarta-feira (21) foi ratificado pela Assembleia da República, Ivone Soares justificou: “Nós não pretendemos matar o Acordo, e Acordo como tantos outros, e qualquer Acordo, é como o tango, dança-se a dois, não basta a vontade da Renamo se não houver respeito na letra por parte do Executivo. O Executivo deve garantir que tudo o que nós acordamos se implemente em 100 por cento, porque se implementar em 20 por cento e esperar que haja contentamento por parte da Renamo é uma falácia”.
“Gostaríamos que se realizassem, pela primeira vez, eleições sem que nenhum partido político seja detentor de armas”
O partido Frelimo, que tal como o partido Renamo, ratificou a Lei atinente ao Acordo de Paz e Reconciliação de Maputo manifestou, através da sua líder parlamentar, preocupação sobre “Junta Militar da Renamo”.
“Os pronunciamentos de uma parte da ala militar da Renamo estão a semear de novo o receio e a insegurança de que uma vez mais a paz tão sonhada e tão esperada pode estar ameaçada”.
Margarida Talapa lançou “um vigoroso apelo à liderança da Renamo e a toda a Renamo para que façam tudo o que esteja ao seu alcance para que com base no diálogo ultrapasse quaisquer diferenças no vosso seio”.
“Gostaríamos que se realizassem, pela primeira vez, eleições Legislativas, Presidenciais e das Assembleias Provinciais sem que nenhum partido político seja detentor de armas”, concluiu a chefe da bancada do partido Frelimo no Parlamento.