Na sequência da detenção de António Muchanga, esta segunda-feira (07), à saída da reunião do Conselho do Estado, na Presidência da República, a Renamo diz que a detenção do seu quadro e membro daquele órgão aconteceu sem nenhum mandado judicial e a medida vai complicar ainda mais a situação política a que Moçambique está mergulhado.
Manuel Lole, quadro da “Perdiz” e também membro do Conselho de Estado, que estava com Muchanga na altura da detenção, disse que durante o encontro a matéria sobre a tensão política no país ora anunciado como sendo a agenda principal foi secundarizada. Levou-se mais tempo a discutir a “quebra de imunidade do António Muchanga”.
O novo ponto de agenda foi apresentado aos membros daquele órgão no início da reunião sob proposta da Procuradoria-Geral da República (PGR) que pediu que se retirasse a imunidade a Muchanga com o argumento de que ele tem vindo a incitar à violência nas suas aparições públicas como porta-voz do líder do seu partido, Afonso Dhlakama.
Lole explicou que a decisão de se retirar a imunidade ao quadro da Renamo não foi por eleição dos membros do Conselho, mas teve um carácter de uma deliberação partidária por parte Frelimo e que mais tarde foi apresentada àquele órgão.
“Durante a reunião do Conselho do Estado não foi aprofundado o assunto relativo a situação político-militar do país, mas foi aprofundada a questão da quebra de imunidade do membro do Conselho de Estado, António Muchanga”, afirmou Lole, sublinhando que “o mais surpreendente nessa situação é que António Muchanga é detido no recinto da Presidência da República sem o mandado judicial”.
O membro da Renamo conta ainda logo no início da reunião os conselheiros ficaram surpreendidos, pois a cenário “mostrava que a reunião havia sido convocada para detenção do porta-voz do líder da Renamo que é igualmente membro do Conselho do Estado, António Muchanga”.
No documento proveniente da PGR, apresentado aos membros do Conselho do Estado, Muchanga é citado como quem tem incitado à violência através das declarações que fazia à imprensa na sua qualidade de porta-voz do líder da “Perdiz”.
“Pensamos que tenha sido esse o motivo da detenção”, disse Lole e acrescentou que o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, recebeu de forma calma a informação e orientou os órgãos competentes do partido para procederem com as diligências nos termos da lei para se apurar qual é, de facto, a causa da detençao: se é um problema político ou não.
Para os membros desta formação política, Muchanga já é um preso político e têm ideia do que pode acontecer se o presidente Dhlakama vier a Maputo para o esperado encontro com o Chefe do Estado, Armando Guebuza, tal como sempre tem insistido o Governo.
A “Perdiz” irá reunir nos próximos momentos para definir a forma de lidar com o assunto. “O partido está calmo e sereno e vamos analisar a situação friamente. Como sabem as detenções dos quadros da Renamo não começam hoje”, afirmou Lole.
Porta-voz de Guebuza não comenta a retirada de imunidade a Muchanga
Durante a conferência de imprensa, o porta-voz e conselheiro do Chefe de Estado, Edson Macuácua, declinou-se a fazer comentários sobre a retirada de imunidade a António Muchanga.
No entanto, questionado sobre a documento proveniente da PGR debatido no encontro, o porta-voz simplesmente recusou-se a comentar, numa clara atitude de tentar esconder o assunto.
Questionado ainda pelos jornalista sobre a posicionado daquele órgão face ao facto de alguns membros da Renamo, em Maputo, estarem a incitar a violência, Macuácua disse que “existem instituições própria para o efeito, existe a lei aplicável para cada situação e que nesse sentido se aplique a lei”.
Macuácua disse que o Presidente da República, Armando Guebuza, foi aconselhado a prosseguir no caminho da busca incessante da paz duradoira, apostando sempre no diálogo.
“Os membros do Conselho do Estado aconselharam que o diálogo em curso deve continuar garantindo-se que o mesmo decorra dentro do respeito da ordem constitucional e tendo também como aspectos fundamentais o respeito pela unidade nacional e pela paz e desenvolvimento.”
Macuácua disse ainda que os membros persuadiram e apelaram a Renamo para cessar as hostilidades e abdicar dos discursos belicistas, para enveredar pelo caminho democrático. E em resposta, Armando Guebuza prometeu que iria imprimir a dinâmica necessária para que se realize o encontro entre ele e o líder da Renamo, em Maputo.