Os dissidentes curdos conseguiram, através de intensa campanha contra a corrupção nas legislativas, ameaçar a hegemonia dos dois grandes partidos tradicionais, e sua bancada pode passar a representar uma verdadeira oposição no Parlamento autônomo do Curdistão iraquiano.
A eleição presidencial, também realizada no sábado, foi marcada por outra grande surpresa. O presidente curdo, Massoud Barzani, que pretendia transformar em plebiscito esta primeira presidencial por sufrágio universal, foi derrotado na província de Suleimanyeh por Kamal Mirawdly, um professor universitário radicado em Londres.
“Segundo os primeiros resultados, a chapa Goran (“Mudança”, em curdo) está à frente na província de Suleimaniyeh”, como se pode-se ler no site (www.sbeiy.com) para as eleições legislativas, liderada pelo ex-número dois da União Patriótica do Curdistão (UPK), Nucherwan Mustapha. Feudo há 35 anos do presidente iraquiano, Jalal Talabani, esta província é considerada a mais importante depois da de Erbil.
Os dissidentes tomaram há vários meses a decisão de apresentar sua própria chapa nestas eleições, para combater a “falta de democracia” na UPK e denunciar a corrupção que se intensifica junto com o crescimento econômico no Curdistão. Um dos líderes da “Mudança” afirmou à AFP que sua lista ganharia pelo menos 28 das 111 cadeiras do novo Parlamento.
“Obtivemos 50% dos votos na província de Suleimaniyeh, o que nos dá 19 cadeiras, e 22% na província de Erbil, ou seja, nove cadeiras”, declarou, sem se identificar. Um dirigente do Partido Democrático do Curdistão (PDK) de Barzani confirmou à AFP a vitória da lista Goran na província de Suleimaniyeh. Segundo suas previsões, a lista comum formada pela UPK e pelo LDK, chamada Kurdistania, obterá 54 ou 55 cadeiras no Parlamento, mas poderá se apoiar nas 11 cadeiras reservadas às minorias. Os islâmicos deverão ficar com cerca de 15 cadeiras.
A Comissão Eleitoral iraquiana destacou sábado que os resultados oficiais somente serão conhecidos dentro de três dias. O PDK e a UPK tinham 78 cadeiras no Parlamento anterior. Se os resultados se confirmarem, haverá pela primeira vez desde as primeiras eleições curdas, em 1992, uma verdadeira oposição parlamentar. “Os primeiros resultados apontam para um governo forte e uma oposição sólida”, declarou Hoger Chatou, coordenador da ONG Chams, que mobilizou 2.500 observadores para estas eleições. Para ele, “os resultados retratam perfeitamente a realidade do Curdistão”.
Na eleição presidencial, Massoud Barzani venceu em Erbil e na província de Dohuk mas Kamal Mirawdly ganhou em Suleimaniyeh, segundo fontes concordantes. O nível de participação foi muito elevado, chegando a 78,5%, e a votação foi considerada “transparente” pela Comissão Eleitoral iraquiana. A campanha eleitoral foi marcada pelas dissensões entre os curdos e o poder central de Bagdá, que lutam pelo controle das zonas petrolíferas da região.