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Redução de comboios prejudica os utentes em Nampula

Redução de comboios prejudica os utentes em Nampula

Foto Júlio PaulinoA circulação de comboios de Nampula a Cuamba, num troço de 314 quilómetros de linha férrea, o principal meio de transporte para a população local, está a ser feita de forma condicionada, alegadamente devido às obras de reabilitação em curso. Este facto tem sido uma autêntica dor de cabeça para os seus utentes. Os concessionários da linha têm anunciado constantes paralisações na circulação, alterações de horários, redução de número de comboios, entre outras situações anómalas.

No passado dia 10 de Agosto, os utentes foram colhidos de surpresa com a fixação de um comunicado na entrada da Estação do Corredor de Desenvolvimento do Norte (CDN) em Nampula, dando conta da introdução de um novo horário e da redução do número de comboios de Nampula a Cuamba, e vice-versa.

O comboio tem sido o principal meio de transporte usado pelos utentes, quer na circulação de pessoas, assim como no transporte de produtos alimentares para a comercialização, dos distritos do interior, nomeadamente Ribáuè e Malema, tidos como celeiros daquela parcela do país, e que fornecem os principais mercados grossistas da capital provincial.

Com a entrada em vigor do novo horário e redução do número de comboios, agudiza-se a crise de transporte de Nampula a Cuamba, derivada da grande demanda de indivíduos que procuram aquele meio circulante, para além de agravar os preços de produtos agrícolas, uma vez que alguns comerciantes já começam a optar por viajar de carro cujos preços são altíssimos, quando comparado com os dos comboios.

Com efeitos imediatos desde 18 de Agosto último, os comboios passam a circular em número de dois ascendentes e igual número descendentes por semana, sendo que partem de Nampula nas terças-feiras e sábados a Cuamba e regressam às quartas-feiras e domingos, com o horário de partida às quatro horas da manhã e com a previsão de chegada a cada um dos pontos às 13 horas.

Anteriormente, as locomotivas circulavam diariamente com cruzamentos ao longo da linha, e só interrompiam às segundas-feiras para dar lugar a sua manutenção. O horário de partida era às 06h00 com previsão de chegada às 17h00.

De acordo com o CDN, empresa gestora da linha férrea, a medida tem em vista dar lugar à celeridade das obras em curso de reabilitação e construção deste empreendimento, no âmbito do projecto de transporte de carvão de Moatize, na província de Tete, para o terminal na vila sede do distrito de Nacala-a-Velha, em Nampula.

A empresa justifica-se afirmando, igualmente, que a decisão derivou, por outro lado, do facto de os horários que eram praticados anteriormente tinham como consequência que os comboios circulassem com poucos passageiros, criando prejuízos avultados à firma no que tange ao combustível, e outras despesas correntes. Além disso, no referido período, as locomotivas faziam um percurso de cerca de 15 horas de viagem, e com o novo horário a circulação será feita em apenas 10 horas, facto que vai reduzir a fadiga dos seus utentes.

Durante os dias, na bilheteira instalada na estação do CDN na cidade de Nampula tem sido notória a existência de longas filas de pessoas, de ambos os sexos, à procura de bilhete para viajar para a Cuamba. Grande parte dos utentes é constituída por comerciantes que fornecem diversos produtos agrícolas ao principal mercado de Nampula.

Presenciámos igualmente que na hora de partida, assim como na de chegada, mais de uma centena de passageiros tem-se feito à estação, observando-se um movimento desusado de pessoas.

Alguns passageiros afirmam que o novo horário estabelecido pela empresa vai ditar uma crise sem precedentes de transporte.

Com a reabilitação da estrada Nampula/Cuamba, o tráfego de viaturas aumentou de forma significativa, o que poderá aliviar os utentes que viam os comboios como principal meio. Mas há uma grande desvantagem no que diz respeito aos preços praticados.

Foto de Arquivo De comboio, saindo de Nampula a Cuamba, o custo é de 170 meticais por passageiro e, no mesmo troço, os chapas cobram 400 meticais. Quanto aos produtos alimentares, quer no comboio, quer nos semi-colectivos, os preços variam em função do volume da carga, sendo estes últimos mais caros.

Zito Magalhães é um dos passageiros que mais recorrem aos comboios. Ele tem usado aquele meio para o transporte de produtos agrícolas de Malema para comercializá-los na cidade de Nampula, sendo esta actividade a sua principal fonte de renda.

Magalhães é um dos grandes fornecedores de tomate, cebola, cenoura e repolho aos revendedores do mercado grossista da Waresta, na cidade de Nampula.

Ele afirma que transportar os seus produtos de Malema a Nampula de carro não constitui a melhor opção para o seu negócio, devido facto de os preços cobrados pela carga serem altíssimos, em relação aos dos comboios. “Dois comboios por semana não são suficientes para satisfazer a demanda dos utentes deste meio devido à grande procura, sobretudo para nós que somos comerciantes. Assim sendo, somos obrigados a recorrer aos chapas. Devido a esta situação, vemo-nos forçados a agravar o preço dos produtos junto aos revendedores”, disse.

Mário Samuel, outro utente de comboio, disse que a redução do número de locomotivas semanais vai fazer com que muitos passageiros fiquem dias sem conseguirem adquirir um bilhete, devido à grande procura. “Haverá muita corrupção para ter acesso a um bilhete de comboio, mas eles decidiram, e não temos como reivindicar, vamos ter que nos conformarmos com esta realidade”, afirmou.

Já Manuela Santos, comerciante, disse que tem circulado regularmente de comboio de Nampula a Mutuali, no distrito de Malema, e aproveita os apeadeiros e outras estações para adquirir grandes quantidades de hortícolas. “A zona em redor da estação é perigosa, com assaltos frequentes, pelo que o horário das 04h00 não é conveniente, pelo que a frequência de dois comboios por semana vai reduzir o volume de negócios”, comentou.

Incumprimento de prazos está na origem do problema

Em 2010, o consórcio Corredor Logístico Integrado de Nacala (CLIN), formado pela Vale Moçambique e a empresa Portos e Caminhos-de-Ferro de Moçambique, assinou com o Governo contratos de concessão ferroviário e portuário que preconizavam a construção da linha e remais ligando Moatize a Nampula. A conclusão deste projecto estava prevista para o ano de 2014, mas até a data o problema não foi resolvido.

A situação em causa coloca a população numa situação de incerteza no que tange à circulação normal de comboios.

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