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Ramira “air” Langa

Ramira “air” Langa

Quando “todo o mundo” saltava para o cesto, ela “esperava” no ar, fazendo gala da sua capacidade de “flutuação”; quando as adversárias desciam, ela subia e marcava o cesto. Técnica quanto baste, muita força vinda do atletismo primeiro, e do andebol depois, fizeram de Ramira Langa, uma das mais fortes, versáteis e completas atletas do pós-Independência.

 

Viveu noites de glória no basquetebol, mas o seu coração “batia” pelo andebol. A mudança de modalidade ficou a dever-se ao desejo de novos e mais difíceis desafios. Hoje, com dois filhos, casada com o actual Seleccionador-adjunto, Miguel Chau, faz uma vida no meio de negócios fora do desporto, mas confessa ter uma pontinha de saudade do “néon” dos campos e do cheiro do balneário.

No andebol, foi a melhor do país, de longe. Venceu tudo o que havia a ganhar, perdeu motivação e abraçou o basquetebol. Rapidamente chegou aos mais altos patamares: ganhou dois títulos africanos – pelo Maxaquene em Maputo e pela Selecção Nacional em Alexandria. Regressou ao andebol, foi a melhor da África Austral e uma das melhores do Continente. Tudo começou no atletismo, na escola, aos 12 anos.

 

O impossível aconteceu

Deixou o andebol do Maxaquene, para integrar a bolaao- cesto na mesma colectividade. Porquê?

– Já nem parecia que eu estava a competir, pois em todos os jogos marcava praticamente o que queria e era sempre a melhor. Gosto de desafios e arrisquei no basquetebol. Tive sorte, entrei logo para a primeira equipa, fazendo parte do cinco-base. Aqui, a competição era mais dura.

Esperança Sambo, Marta Monjane, Ana Paula Reis, Aurélia Manave, eram as colegas que consigo formavam o cinco-base. Uma equipa de luxo que normalmente ganhava quase tudo internamente e, não raras vezes, internacionalmente. Os pavilhões enchiam-se, pois havia bola-ao-cesto para todos os gostos. O auge foi vivido no ano de 1992 quando os tricolores fizeram o milagre do triunfo no Africano, quando era já “impossível” chegar ao título. Impossível? Sim. E como isso aconteceu?

Os olhos, enormes, de Ramira Langa brilham. Por uns momentos fechou-os, para fazer regressar as imagens de uma noite que a marcou. Foi o diamãe de todas as loucuras…

– Entrámos para o campo frente às senegalesas, conscientes de que teríamos de ganhar por um mínimo de 10 pontos. Se perdêssemos por 1 ponto, elas seriam as campeãs. Por fora “jogava” a Selecção do Zaire. O nosso adversário era muito forte. Empatámos o jogo e por duas vezes registaram-se igualdades nos prolongamentos, num dos quais foi necessário falhar um cesto de propósito. À terceira, foi mesmo de vez. O público estava connosco e chegámos aos tão sonhados 10 pontos de vantagem. Todas chorámos e uma parte dos assistentes também. Foi um dos momentos mais felizes que o desporto me proporcionou. A Esperança fez-me a última assistência e eu marquei os dois pontos da vitória. Foi um milagre.

Vivemos, acompanhámos e recordámo-nos dessa noite inolvidável. O pavilhão do Maxaquene parecia querer desabar. Do lado das duas equipas, havia choros. Uns de alegria, outros de infelicidade.

Mas uma outra noite idêntica aconteceu a Ramira, só que fora do país e ao serviço da Selecção. Foi em Alexandria, no Egipto, em 1991, na única medalha de ouro do basquetebol em Jogos Africanos. Felizmente para nós, também lá estávamos e testemunhámos o feito, sob a batuta de Luís Cezerilo. Foi uma longa noite em que as senegalesas, assanhadas, tudo fizeram para ganhar. Valeram então, a astúcia do “mister” Cezerilo, a classe de Esperança Sambo (uma enciclopédia de basquetebol) e as entradas, no momento certo, de Ramira e Joaquina Balói.

– Alexandria ainda está presente em mim, fomos apoiadas como se estivéssemos a jogar em casa. Ainda guardo, com carinho, a medalha que nunca mais foi repetida.

 

A ida (gorada) para Israel

Fez uma exibição enorme, num torneio na África do Sul, e daí nasceu a cobiça de um clube de Israel. A troca de correspondência aconteceu e ganhou alguma consistência. Chegou a ter passagem marcada. Mas tudo falhou por uma questão de verbas…

– Eles ofereciam-me mil dólares americanos e davam-me casa. O resto correria por minha conta. Meditei e concluí que não valia a pena arriscar, deixar a família, ficar lá um tempo e quase ter que voltar de mãos a abanar. Ainda sugeriram que fosse, com a condição de me arranjarem um emprego, mas mesmo assim não aceitei. Já não era moça nenhuma e tinha que pensar na minha vida.

Entretanto, conhecera o Miguel Chau, seu esposo, nas andanças do desporto. A paixão por cá e o receio da aventura, falaram mais alto

 Episódio que não esquece

As sapatilhas atrapalhavam… Nos primeiros anos de andebol, jogavam desc alç as e sentiamse bem. R a m i r a e s t a v a habituada. Mas começaram a aparecer as sapatilhas da UFA, umas com atacadores, outras não. O técnico começou a aconselhar a que todas as usassem. A contra-gosto, lá foi obedecendo. Até que uma altura…

-O jogo aqueceu e as sapatilhas estavam a incomodarme e muito. Nem tive tempo para desapertar os atacadores, descalcei-as e atirei-as para fora do campo. O rendimento subiu muito e passei a marcar tentos sucessivos. Daí em diante, passei a utilizar as sapatilhas sem atacadores, para as descalçar quando incomodassem. Mas aos poucos fui-me habituando a jogar calçada.

No andebol começou no Matchedje, a partir da escola, mas depois ingressou no Maxaquene, numa passagem que não terá sido tão “ingénua” como se pode pensar…

– Recebi um convite para trocar de camisola porque o Maxaquene tinha preparado uma viagem a Portugal. Havia a ânsia de conhecer Lisboa., oportunidade que não sabia se se iria repetir. Não pensei duas vezes. O Matchedje não me deu a carta, joguei lá fora (e agradei), mas acabei ficando um ano sem jogar internamente. Soube que o Benfica contactou os treinadores para eu ingressar naquela equipa, mas pouca movimentação se fez.

 

 ESPERANÇA SAMBO: a maior de sempre!

Começou no atletismo, nos iniciados, onde bateu o recorde dos 500 metros. Depois, veio o andebol, mas com uma outra actividade de permeio: o teatro. Chegou a representar o papel de uma árvore que falava, na peça “O gala-gala bisnaga”. Por pouco tempo.

Ao longo da sua vasta carreira, viu, jogou e acompanhou as actuações de milhares de atletas. Mas uma atleta a marcou, como desportista e como pessoa. O seu nome: Esperança Sambo.

– Ela era o máximo. Não tinha “pinta” de jogadora, se vestisse uma capulana iria parecer uma mamana, mas era mestre nas assistências. Tinha uma visão extraordinária, “lia” correctamente a movimentação de toda a equipa e não era egoísta. Jogava para a equipa e não para ela brilhar. Devo muitos e belos pontos às suas assistências que desnorteavam as adversárias.

 

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