“Mágico e confuso”, segundo o jornal francês Libération, “Tio Boonmee”, filme tailandês ganhador da Palma de Ouro no domingo em Cannes, merecia receber, no entanto, a “Palma do tédio”, segundo Le Figaro, ou a do “grotesco”, segundo El Pais, enquanto o Times considerou o filme “bizarro” e “fantástico”. “Os jurados se deixaram seduzir por uma obra impressionante que resiste a todas as classificações”, escreveu The Independent, destacando que no festival havia uma seleção “magra” este ano.
“Num mundo dominado pelos grandes nomes de Hollywood, ninguém negará a Tio Boonmee seu lugar ao sol em Cannes”, avaliou o jornal britânico. Para o Times de Londres, o filme tailandês foi “o mais bizarro” da seleção, mas igualmente “fantástico”. “O anjo do bizarro se inclinou sobre esta 63ª edição do Festival de Cannes”, com uma Palma de Ouro “totalmente inesperada” atribuída a “um fora da lei do cinema”, escreveu o Le Monde (França).
Com o título “Grotesca palma de ouro”, o El Pais, da Espanha, criticou “o hermetismo procurado, inatingível poesia e linguagem patética” do produtor Apichatpong Weerasethakul, acrescentando que seu filme é um “conto absurdo e entendiante”. A “lembrança mais transcendente e estúpida deste Cannes imediatamente esquecível será o triunfo deste lirismo em vão”, concluiu Carlos Boyero.
Também amargo, Le Figaro, da França, estima que “Tio Boonmee” merece a “palma do tédio”. O júri presidido por Tim Burton recompensou “um filme hermético, lento e de simbolismos obscuros”, “um filme de duas horas que nos faz perguntar o que ele quis dizer”.
Uma “Palma estranha”, segundo o Le Parisien, também francês, que argumentou que o prêmio foi atribuído a um “apóstolo do cinema experimental, contemplativo e repleto de maravilhas, que, no entanto, não agrada ao grande público”. Para o Times, “Des hommes et des dieux”, do francês Xavier Beauvois que recebeu o Grande Prêmio do Júri, “fará sentido para um público um pouco maior”. É “um filme miraculoso tocado pela graça”, segundo Figaro.
“Cannes 2010 marca a vitória das decisões arriscadas”, segundo o diário suíço, Temps. Os premiados Apichatpong Weerasethakul e Mahamat-Saleh não voltarão tão cedo a ver um outro filme sendo coroado na Croisette. Mas o que aconteceu foi bom para a liberdade de criação” Essa 63ª edição permanecerá “como um baluarte da proteção da diversidade e da liberdade”, concluiu.
O espanhol El Mundo julgou que o “cinema primitivo” foi premiado, enquanto que o suíço Le Matin disse que Tim Burton e seu júri “prepararam uma lista equilibrada, bem pensada e com estilos variados”. Um dos “principais aspectos positivos” dessa “estranha edição”, segundo o Le Monde, “revelou-se mais do que nunca sensível aos movimentos do mundo, às crises, aos debates que ele atravessa”.