O presidente russo, Vladimir Putin, delineou planos para um cessar-fogo no leste da Ucrânia, esta quarta-feira (3), mas o primeiro-ministro ucraniano rejeitou a proposta, e a França expressou a sua desaprovação ao apoio de Moscovo aos separatistas freando a entrega de um navio de guerra.
Depois de falar com o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, por telefone, Putin disse acreditar que Kiev e os separatistas pró-Rússia podem chegar a um acordo nas conversas planeadas para acontecer em Minsk, Belarus, na sexta-feira.
“As nossas visões sobre a maneira de resolver o conflito, pareceu-me, são muito próximas”, declarou Putin aos repórteres durante uma visita à capital da Mongólia, Ulan Bator, descrevendo as sete etapas que propôs para garantir um desfecho para a crise.
Entre elas estão a suspensão de operações ofensivas dos separatistas, o recuo das forças ucranianas, o fim dos ataques aéreos ucranianos, a criação de corredores de ajuda humanitária, a reconstrução da infraestrutura danificada e a troca de prisioneiros.
Poroshenko indicou que a conversa com Putin injectou algum ânimo nos esforços para encerrar o conflito, que já matou mais de 2.600 pessoas desde Abril, dizendo esperar que “o processo de paz finalmente comece” nos tratados da sexta-feira e que ele e Putin alcançaram um “entendimento mútuo” sobre os passos rumo à paz.
Mas o primeiro-ministro ucraniano, Arseny Yatseniuk, chamou o plano de “decepção”, às vésperas de uma cúpula da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (NATO) para discutir a Ucrânia, acrescentando com aspereza que “o verdadeiro plano de Putin é destruir a Ucrânia e restaurar a União Soviética”.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, também mostrou-se cauteloso, afirmando que o conflito só pode terminar se a Rússia parar de fornecer armas e soldados aos rebeldes, acusação que Moscovo nega.
Em mais um sinal da desconfiança ocidental crescente e da desaprovação a Moscovo pela sua conduta na Ucrânia, a França declarou que não irá levar adiante a entrega já planeada do primeiro de dois porta-helicópteros Mistral à Rússia.
Moscovo afirmou que a rejeição do negócio de 1,2 bilhão de euros prejudicaria mais a França do que a Rússia, e o Ministério da Defesa russo disse não ver “nenhuma tragédia” na decisão, mas o gesto deve irritar o Kremlin e ressaltar o isolamento cada vez maior da Rússia.
Cessar-fogo
As propostas de cessar-fogo tiveram pouco impacto no leste da Ucrânia, palco dos conflitos. O bombardeio na cidade de Donetsk, controlada pelos rebeldes, continuou e colunas de fumaça foram vistas na área que inclui o aeroporto da cidade.
Os líderes rebeldes disseram ter pouca fé que as forças ucranianas irão respeitar qualquer trégua nos combates. Um cessar-fogo pode ser bem-vindo para que Poroshenko restaure a combalida economia do país e porque as suas forças sofreram revezes nas últimas semanas.
O porta-voz de Putin Dmitry Peskov procurou abordar as preocupações com as propostas de trégua dizendo que elas não tratam da situação das áreas ocupadas pelos rebeldes.