A Rússia tem de aumentar a população e desenvolver os valores patrióticos e espirituais, do contrário perderá sua alma e entrará em colapso, disse o presidente russo, Vladimir Putin, nesta quarta-feira.
No seu primeiro discurso sobre o estado da nação desde que iniciou em maio um novo mandato de seis anos – o seu terceiro -, Putin mesclou a necessidade de combater a corrupção e melhorar os serviços do Estado, como as escolas, com comentários imponentes sobre a identidade e a alma russa.
Ele fez um costumeiro alerta ao Ocidente e a seus adversários políticos, dizendo que a ingerência estrangeira na política russa é inaceitável e que os políticos não devem aceitar apoio financeiro do exterior. Quanto ao cenário mundial, ele disse que a Rússia se contrapõe àqueles que semeiam o caos – numa aparente referência a ação militar dos EUA no exterior e ao apoio ocidental aos opositores do governo em países como Líbia e Síria.
Mas o foco no discurso feito aos parlamentares numa suntuosa sala de recepções do Kremlin foi principalmente sobre assuntos internos, e Putin sugeriu que a maior ameaça para a Rússia é a da diminuição da população, que encolheu em milhões de pessoas desde o colapso soviético, em 1991.
A população da Rússia caiu de 148,9 milhões em 1992 para 141,9 no ano passado, segundo o Banco Mundial. “Se o país não é capaz de se preservar e se reproduzir, se perde posições e ideais vitais, então não precisa de inimigos estrangeiros: vai desmoronar por conta própria”, disse Putin. “Para a Rússia ser soberana e forte, temos de ser mais e temos que ser melhores”, disse ele no pronunciamento transmitido a todo o país pela TV.
Putin reiterou advertências contra o extremismo e apelo a à harmonia étnica, dizendo que, apesar da diversidade do país “somos um povo — russos”.
LAÇOS ESPIRITUAIS
“Devemos não só preservar, mas desenvolver nossa identidade nacional e nossa alma. Não devemos nos perder de nós mesmos como uma nação. Temos de ser e permanecer a Rússia”, disse ele no discurso de 80 minutos.
Treze anos depois de assumir o poder, e mais de duas décadas após o colapso da União Soviética, Putin ainda parece estar à procura de uma ideia abrangente para unir os russos. Tendo o patriarca da Igreja Ortodoxa russa sentado na primeira fila, Putin afirmou ser crucial “apoiar instituições que são portadores de valores tradicionais”.
“É doloroso para mim dizer isso, mas eu devo: a sociedade russa experimenta hoje um déficit evidente de laços espirituais”, disse Putin. “Misericórdia, compaixão e apoio de uns aos outros. Uma falta daquelas coisas que sempre nos fizeram mais fortes, das quais sempre tivemos orgulho”.
As suas observações pareciam destinadas a lançar os valores morais como o eixo central da sociedade russa sem especificamente destacar a Igreja Ortodoxa, com a qual a maioria dos russos se identifica, embora apenas uma minoria vá regularmente à igreja.
O país tem também uma forte minoria de milhões de muçulmano. No poder desde 2000, como presidente ou primeiro-ministro, Vladimir Putin, tem usado os pronunciamentos anuais para moldar uma imagem de líder forte de mente afiada no comando dos fatos econômicos e figuras e em contato com o povo.