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Protestos na Líbia chegam a capital e ameaçam poder do ditador Khadafi

Os ventos da revolução árabe

Várias cidades na Líbia estão mergulhadas no caos, com relatos de edifícios públicos em chamas, incluindo o do Parlamento em Trípoli, e unidades militares e policiais em fuga, com os protestos pró-democracia a entrarem hoje no oitavo dia consecutivo. Bengasi e Sirte estarão já ambas sob o controlo de multidões que exigem o fim do regime de Muammar Khadafi – no poder desde o golpe militar de 1969 –, inspiradas pelas revoltas populares que conduziram à deposição dos chefes de Estado na Tunísia e Egipto e que se propagam actualmente por diversos países do Norte de África e do golfo.

A Federação Internacional de Direitos Humanos, segundo a qual se registam já entre 300 e 400 mortes desde a eclosão dos protestos da semana passada na Líbia, descreve que os manifestantes ganharam o controlo daquelas duas cidades após a retirada do terreno de algumas unidades do exército.

O jornal líbio “Quryna” reporta entretanto na sua edição online que protestos anti-Governo estão a decorrer em Ras Lanuf, cidade no Norte da Líbia onde se localiza uma das maiores refinarias petrolíferas do país, com capacidade para produzir 220 mil barris por dia. Segundo o “Quryna” os trabalhadores formaram comités especiais de segurança nas instalações para evitar que as mesmas sejam destruídas.

Nas últimas horas chegaram igualmente relatos de a polícia ter fugido da cidade de Zawiyah, a Oeste de Trípoli, depois de esta ter submergido no caos. Residentes naquela região estão em fuga para a vizinha Tunísia, reporta a AFP citando testemunhas locais.

A situação em todo o país está a tornar-se cada vez mais “confusa”, descreve o correspondente da BBC Jon Leyne, avançando que correm cada vez mais persistentemente rumores, não confirmados, de que Muammar Khadafi terá saído de Trípoli, possivelmente em direcção a Sirte, sua cidade natal, ou para a base que possui no deserto, em Sabha.

Desde as primeiras horas da manhã têm-se sucedido notícias de ataques a edifícios públicos, incluindo o do Parlamento em Trípoli e de uma esquadra em Souk Al-Jamma, nos arredores da capital, supostamente lançados em fogo por activistas pró-democracia. “Consigo ver a Assembleia do Povo a arder. Estão lá bombeiros a tentar apagar o fogo”, descreveu o jornalista, quando o país entra hoje no oitavo dia consecutivo de contestação ao regime autoritário de Muammar Khadafi, de que resultaram já mais de 230 mortos (segundo a Human Rights Watch).

A Assembleia do Povo é o edifício onde reúne o Congresso Popular, o Parlamento, quando está em sessão na capital Líbia. O correspondente da BBC relatava que as ruas de Trípoli “para já” estão de novo sob o controlo das forças de segurança líbias, muito embora continue a ser reportado que são ouvidos disparos em zonas dos arredores da cidade.

Ao mesmo tempo, organismos e associações pró-Khadafi estão a distribuir gratuitamente carne, peixe, e frutos secos a todos quantos se juntem às manifestações a favor do regime. Moussa diz que reivindicações são “legítimas” Cada vez mais vozes se juntam hoje às críticas à acção das autoridades na repressão dos protestos: mais recentemente a do secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, o qual descreveu as reivindicações dos manifestantes como “legítimas” e instou o regime de Khadafi a pôr termo à repressão violenta das manifestações.

“Estamos perante novas circunstâncias na regiãom, e estas circunstâncias exigem conversações e não o confronto”, sublinhou Moussa, expressando a “profunda preocupação” da Liga Árabe com o que se passa na Líbia. “Seguimos os acontecimentos com enorme preocupação”, reiterou, citado pela agência noticiosa britânica Reuters.

A noite de ontem para hoje fora de novo muito turbulenta nas ruas de Trípoli, com relatos de tiros a serem disparados em várias zonas da cidade pouco após a transmissão nas televisões do discurso do filho do líder líbio. Nessas declarações, Saif al-Islam Khadafi avisou que o país está em risco de guerra civil, caso os protestos não cessem.

Segundo a Al-Jazira, ouviram-se constantes disparos, incluindo de armas pesadas, junto à Praça Verde, epicentro da contestação na capital líbia e onde os manifestantes anti-Governo foram brutalmente reprimidos.Uma testemunha contou àquele canal, com sede no Qatar, que as forças de segurança que dispararam contra os manifestantes na praça eram da “milícia especial que protege Khadafi”, a chamada guarda pretoriana, maioritariamente formada por mulheres.

Testemunhas relataram ainda que, durante a noite, grupos de manifestantes entraram e saquearam o edifício da televisão estatal, já após o discurso de Saif al-Islam Khadafi, o que forçou a interrupção das transmissões temporariamente. Esta manhã a televisão estava já a operar normalmente.

Ainda em Trípoli, os familiares dos funcionários da embaixada do Reino Unido, que pediu protecção às autoridades líbias para retirar os seus cidadãos do país, já saíram da Líbia através de voos comerciais. A Turquia, um dos países com mais cidadãos e negócios naquele país, terá visto hoje um dos seus aviões impedido de aterrar em Bengasi.

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