O Projecto de Alfabetização Feminina em Angola e Moçambique (FELITAMO) permitiu, a nível do país, o acesso directo às habilidades de escrita e leitura para pouco mais de cinco mil pessoas, na sua maioria mulheres nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, região norte.
Ao abrigo do projecto, cuja implementação iniciou em 2010, financiado pela União Europeia (EU), mulheres dos distritos de Mueda, Muidumbe e Nangade (Cabo Delago); Nacarôa e Ilha de Moçambique (Nampula) sabem agora ler e escrever, fruto dos benefícios do projecto.
O FELITAMO, com dois anos de duração, lançado pelo Instituto de Cooperação Internacional da Associação Alemã para Educação de Adultos (dvv Internacional), além de permitir ao grupo de mulheres beneficiárias conseguir ler, escrever e fazer cálculos matemáticos, forneceu mais conhecimentos sobre matérias como habilidades práticas para a sua vida quotidiana.
Entre as práticas destaca-se, a título de exemplo, a saúde materno-infantil, higiene individual e colectiva, saneamento, economia e poupança, direitos humanos e convivência familiar, práticas agrícolas sustentáveis entre outras.
O projecto teve o carácter particular de usar a língua portuguesa com o auxílio das línguas locais, para uma melhor interpretação tanto dos textos quanto dos exemplos práticos, até porque esteve centrado numa abordagem participativa, modelo considerado relevante aos problemas e realidade dos beneficiários.
O fruto da abordagem traduz-se na capacidade de leitura básica de tabuleiros na via pública, seus nomes e de familiares e, em casos isolados, receitas médicas e bíblias.
No domínio da numeraria, os alfabetizandos passaram a ser capazes de fazer trocos no processo de compra e venda de produtos para o consumo doméstico.
As iniciativas deste género, quando bem-sucedidas, podem muito bem contribuir para uma melhor promoção da igualdade do género e a autonomização da mulher meta consagrada no terceiro Objectivo de Desenvolvimento do Milénio (ODM).
David Harrington, Coordenador Regional do Projecto, que falava hoje em Maputo a margem da Conferência sobre Boas Práticas na Alfabetização de Mulheres que decorre em Maputo, disse que o impacto do programa constitui um valor acrescentado para os beneficiários.
O projecto, segundo Harrington, empoderou as mulheres beneficiárias que passaram a jogar um papel mais activo e interventivo na busca de soluções para as preocupações partilhadas a nível das comunidades, realidade que, segundo as lideranças locais, nunca antes tivessem pensado que tal aconteceria.
Por seu turno, Idite Joaquim, Coordenadora do Projecto no país, disse que a alfabetização é ainda um grande desafio, mas afirma que o FELITAMO teve um impacto bastante positivo nas comunidades e está sensibilizar não apenas as pessoas adultas que estão a ser alfabetizadas nos centros mas também a criar um ambiente de aprendizagem propício para as crianças.
“O projecto tem muita importância por estar voltado para os adultos, em particular para as mulheres, que já têm filhos que já deviam estar numa escola, daí a utilidade deste projecto, pois elas podem melhor orientar os filhos na educação”, disse a fonte.
A taxa de analfabetismo no país está a regredir, desde a independência nacional há 37 anos, onde rondava os 93 por cento, isto é, apenas sete em cada 100 moçambicanos sabiam ler, escrever e contar.
Entretanto, a situação hoje é ainda melhor bastando, para o efeito, apontar que 56 em cada 100 moçambicanos já sabem ler e escrever, exemplo que mostra a tendência regressiva e o impacto dos programas que o governo e parceiros estão a realizar nesta área de alfabetização de jovens e adultos.
Até 2015, a meta é reduzir a actual taxa de 43,9 por cento para 30 por cento. Para o efeito, o governo devia alfabetizar um milhão de pessoas por ano, porque só assim será possível ter 70 por cento da taxa da população jovem e adulta alfabetizada. Todavia, porque tal desiderato não se tem mostrado fácil, o governo apenas alfabetizar entre 500 mil a 600 mil jovens e adultos por ano.