Os combatentes do Estado Islâmico aproximaram-se de uma cidade estratégica na fronteira norte da Síria com a Turquia, esta sexta-feira (26), combatendo as forças curdas e enviando pelo menos dois projécteis de artilharia para dentro do território turco, disseram testemunhas.
O Estado Islâmico lançou uma ofensiva para tentar capturar a cidade fronteiriça de Kobani há mais de uma semana, cercando-a por três lados. Mais de 140 mil curdos fugiram da cidade e de vilas próximas desde a sexta-feira, cruzando para o lado da Turquia.
Os insurgentes islâmicos sunitas aparentemente tomaram controle de uma colina onde os combatentes do YPG, o principal grupo armado no norte da Síria, os estavam a combater havia dias, a 10 quilómetros a oeste de Kobani, disse um correspondente da Reuters.
Sons de tiros de artilharia e rajadas de metralhadores ecoaram pela fronteira, e pelo menos dois projécteis atingiram um vinhedo no lado turco. Não houve relatos imediatos no lado da Turquia e a polícia paramilitar chegou para inspeccionar o local.
“Estamos com medo. Estamos a pegar o carro e a sair hoje”, disse o dono do vinhedo, Huseyin Turkmen, de 60 anos, à medida que os tiros de armas de baixo calibre soavam nas colinas sírias logo ao sul do local.
As forças curdas disseram na quinta-feira ter conseguido conter o avanço inimigo em Kobani, também conhecida como Ayn al-Arab, mas apelaram para que os ataques liderados pelos EUA tivessem como alvo tanques e armamentos pesados do Estado Islâmico.
“Os confrontos vão para o leste, oeste e sul de Kobani… três lados da cidade estão activos”, disse Idris Nassan, vice-ministro das Relações Exteriores da região de Kobani, por telefone.
“Eles estão a tentando muito chegar a Kobani. Há resistência aqui por parte do YPG, de Kobani e de alguns voluntários do Curdistão turco, que estão a vir compartilhar os esforços de Kobani. Eles têm dado uma forte resposta”, disse.
A localização estratégica de Kobani tem evitado que combatentes do Estado Islâmico consolidem os seus ganhos no norte da Síria. O grupo tentou tomar a cidade em Julho, mas foi repelido pelas forças locais apoiadas por combatentes curdos vindos da Turquia.
“Se eles chegarem dentro de Kobani, todo o mundo aqui está armado, estão armados e a resistir. Mesmo eu, eu sou o vice-ministro do Exterior aqui no cantão de Kobani, mas estou armado também. Estou pronto para defender Kobani”, disse Nassan. “Todas raparigas, todos rapazes, todos homens que forem capazes de lutar, carregar uma arma, estão armados e prontos para defender e lutar.”
A Turquia tem sido lenta em responder aos pedidos de participação numa coligação para combater o Estado Islâmico na Síria, em parte por temer a ligação entre curdos sírios e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), um grupo militante turco que há três décadas trava uma campanha contra o Estado turco por mais direitos para os curdos.