O primeiro-ministro turco, Tayyip Erdogan, voltará esta quinta-feira a uma nação abalada por protestos contra a sua liderança, no que poderá ser um momento crucial na pior agitação política da Turquia há décadas.
Erdogan retorna de uma viagem ao norte da África para encarar as exigências para que peça desculpas pela repressão policial feroz e demita aqueles que ordenaram a ação, depois de uma semana de protestos que deixaram dois mortos e mais de 4 mil feridos em uma dúzia de cidades.
O que começou como uma campanha contra a reurbanização de um parque em Istambul se tornou um movimento inédito de rebeldia contra o autoritarismo percebido de Erdogan e seu Partido AK, de raízes islâmicas. Com apoio de veículos blindados, a polícia disparou gás lacrimogéneo e canhões de água sobre os manifestantes, que revidavam com pedras, noite após noite, enquanto milhares se reuniram pacificamente nos últimos dias na Praça Taksim, onde os protestos começaram.
O primeiro-ministro viajou na segunda-feira num clima desafiador, repudiando os manifestantes como saqueadores e prometendo que a agitação acabaria em questão de dias, comentários que, segundo seus críticos, inflamaram as tensões.
“Nós temos a força, com pessoas como eu indo para o trabalho todos os dias e voltando para participar dos protestos”, disse Cetin, um engenheiro civil de 29 anos que não quis dar seu sobrenome, porque trabalha em uma empresa próxima ao governo. “Devemos continuar vindo aqui para protestar até que nós realmente possamos sentir que conseguimos alguma coisa”, disse ele entre milhares de pessoas reunidas na Praça Taksim, até tarde da noite.
O vice-primeiro ministro Bulent Arinc, à frente do governo na ausência de Erdogan, apresentou um tom mais conciliador, pedindo desculpas pela repressão policial inicial aos ativistas pacíficos e se reunindo com uma delegação de manifestantes na terça-feira em seu gabinete em Ancara.
“Exigimos o afastamento do cargo de quem deu a ordem para infligir força … começando com os governadores e chefes de polícia de Istambul, Ancara e Hatay”, disse um porta-voz da delegação, referindo-se às áreas mais afetadas pela violência.