O primeiro-ministro de Guiné-Bissau, Carlos Gomes Junior, disse esta sexta-feira que “não renunciará” e que a situação se estabilizou no país depois de uma rebelião do exército que levou à sua detenção. “Eu não vou renunciar porque fui eleito democraticamente. Considero o que aconteceu na quinta-feira um incidente”, disse o premier a jornalistas após reunião com o presidente Malam Bacai Sanha para solucionar a situação.
“A situação é estável agora. Posso assegurar-lhes que as instituições voltarão a seu funcionamento normal”, acrescentou. Mais cedo, ministros de Estado do conturbado país africano se reuniram, condenando o “uso da força” pelos militares. Após celebrarem uma “sessão extraordinária” para analisar os acontecimentos da quinta-feira, os membros do gabinete afirmaram em comunicado que os mesmos ameaçaram a ordem constitucional. “Membros do governo expressaram seu apoio e dedicação ao primeiro-ministro e condenaram, firmemente, o uso da força como um meio de resolver problemas”, acrescentou o comunicado.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, e as instâncias internacionais condenaram os acontecimentos no país, que se tornou um ponto importante de trânsito para a cocaína sul-americana e os mercados europeu e norte-americano. Gomes Junior, popularmente conhecido como “Cadogo”, foi detido em seu gabinete na sede do governo e depois levado para sua casa, onde permaneceu vigiado por soldados e policiais desertores.
Na rebelião, os soldados também prenderam o chefe do exército general Jose Zamora Induta, bem como outros oficiais e, em um determinado momento, ameaçaram matar o primeiro-ministro na mais recente desordem nesta antiga colônia portuguesa, que se arrasta de golpe em golpe desde a sua independência, anos anos 1970.
Em entrevista breve, por telefone, à AFP, o auto-proclamado novo chefe militar, general Antonio Indjai, chegou a ameaçar matar o primeiro-ministro, ao afirmar: “Cadogo é um criminoso e deve ser tratado desta forma”. Mais tarde, Indjai, que antes ocupava o cargo de vice-chefe de Estado Maior, baixou o tom, afirmando em um comunicado lido na rádio nacional que o motim havia sido promovido por um grupo de militares, que era “um problema puramente militar” e que o exército reiterava “seu apego e sua submissão ao poder político”.
O presidente Sanha, por sua vez, que não apareceu durante a rebelião, depois se manifestou, afirmando que o aparente golpe tinha sido “uma confusão entre soldados que alcançaram o governo”. A situação em Bissau era de normalidade nesta sexta-feira. Enquanto na véspera, se via soldados acompanhando manifestações de alguns simpatizantes do premier, as tensões pareciam ter se esvaído. Não havia soldados patrulhando as ruas e a emissora nacional de rádio voltou à programação normal, depois de interromper as transmissões para executar música militar, durante a prisão do premier.