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Presidente Nyusi, espantado com relatórios de “realizações”, ignora mais de meio milhão de pessoas em insegurança alimentar aguda em Moçambique

Presidente Nyusi

Grafismo de Nuno TeixeiraO Presidente Filipe Nyusi deixou a impressão, durante o último périplo pelas províncias, de ter sido surpreendido por relatórios que só apresentam “realizações”. Porém, tão grave como as bolsas de fome que lhe foram ocultadas, é facto do Chefe de Estado ter ignorado o Relatório do SETSAN que alerta para a existência “531,476 pessoas em 19 distritos foram classificadas em situação de crise (…) necessitando de intervenções urgentes para proteger seus meios de vida, reduzir o défice de alimentos e aumentar a sua resiliência aos eventos extremos”.

Durante a visita que realizou a província de Tete, entre 30 de Julho e 2 de Agosto, o Presidente da República constatou, numa sessão do governo local que o relatório que lhe foi apresentado não correspondia à realidade. “Aqui na produção agrícola campanha 2016/2017 estão a falar de haver queda irregular pluviométrica em algumas regiões da província, com maior incidência falam de Doa, Changara, Moatize e Zumbo. Mas dificultaram-me o comício, ali hoje eles disseram-me (em Chiuta) que tem problemas, para vocês não há? Para eles em coro há. Qual é a explicação? Disseram em coro, vocês ouviram!”

Mas se o povo reclama de fome e o Chefe de Estado notou só agora que os relatórios apresentados durante as suas visitas quase só trazem propaganda das “realizações” o facto é que Filipe Nyusi também ignorou o Relatório da Análise de Insegurança Alimentar Aguda, produzido pelo Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN), que alertou no início de Junho passado que mais de meio milhão de moçambicanos precisavam de acções imediatas para colmatar a insegurança alimentar aguda em que estão.

“No período de Abril a Setembro de 2018, 531,476 pessoas em 19 distritos foram classificadas em situação de crise nos distritos de Chibuto, Chicualacuala, Chigubo, Guija, Mandlakaze e Mapai na província de Gaza, Funhalouro, Mabote e Panda na Província de Inhambane, Cahora Bassa, Changara, Chifunde, Chiuta, Doa, Magoe, Marara, Moatize e Mutarara na Província de Tete e Chemba na Província de Sofala necessitando de intervenções urgentes para proteger seus meios de vida, reduzir o défice de alimentos e aumentar a sua resiliência aos eventos extremos”, pode-se ler no relatório a que o @Verdade teve acesso e que mereceu análise pelo Centro Nacional Operativo de Emergência (CENOE) a 11 de Junho.

Só na província de Tete os afectados são 20.775 no distrito de Chiúta, 26.374 em Doa, 21.002 em Mágoe, 16.625 em Marara, 85.887 em Moatize, 43.572 em Mutarara e 17.586 em Chemba.

O documento indica que “Foram apontados como as principais causas, a fraca produtividade agrícola devido a queda irregular e início tardio de chuvas, falta de sementes melhoradas e tolerantes a mudanças climáticas, consumo inadequado de alimentos, insuficiência de reservas alimentares, incidência de pragas e doenças nas culturas e baixo acesso aos serviços de água e saneamento melhorado”.

Cabo Delgado, Zambézia, Manica, Sofala e Inhambane em situação de estresse alimentar

O Relatório do SETSAN, que foi produzido entre Abril e Maio deste ano, concluiu ainda, agregando outros factores de risco, que “o número total de pessoas em situação de crise é de 891,053, representando 17 por cento da população total dos 36 distritos nas 7 províncias analisadas”.

Para além dos cidadãos moçambicanos em insegurança alimentar aguda o Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional classificou como “em situação de estresse” 13 distritos das províncias de Cabo Delgado (4), Zambézia (2), Manica (1), Sofala (3) e Inhambane (3) e ainda “3 distritos foram classificados em situação de insegurança alimentar mínima”.

Após a apresentação efectuada pelo SETSAN ao Centro Nacional Operativo de Emergência o @Verdade questionou quanto iria custar o atendimento desses moçambicanos em situação de emergência alimentar. O porta-voz do CENOE, Paulo Tomás, disse na ocasião que ainda não estava quantificado e alertou para o facto do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades “só ter disponibilidade de cereais e feijões para um mês”.

Nenhum actualização foi feita entretanto. A julgar pelo espanto do Presidente da República a insegurança alimentar aguda de 531,476 moçambicanos ainda nem sequer mereceu a atenção dos governantes. Aliás o @Verdade sabe que no seguimento da visita presidencial o Conselho de Ministros desta semana terá pela primeira vez tomado conhecimento da gravidade da situação.

Em Abril último a Directora Nacional Adjunta da Saúde, Maria Benigna Matsinhe, declarou que “Muito se faz mas também pouco se faz” em relação insegurança alimentar que causa a desnutrição crónica, uma doença que afecta 43 por cento dos moçambicanos retardando o crescimento das crianças, deixando-as vulneráveis a contrair doenças infecciosas e degenerativas, causando fraco desempenho intelectual e podendo “conduzir a perdas de produtividade de cerca de 2 a 3 por cento do Produto Interno Bruto”.

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