O presidente de Honduras, Manuel Zelaya, entrou à força nesta quinta-feira numa base aérea militar junto a dezenas de seus seguidores para recolher material eleitoral que pretende usar na consulta sobre uma eventual reforma constitucional, em claro desafio ao Congresso e à Justiça.
Zelaya e os seus seguidores forçaram os portões para entrar na base Aérea Acosta Mejía, perto do aeroporto de Toncontin da capital. O próprio presidente carregou caixas com cédulas e as urnas para levá-las a caminhões que o aguardavam, diante do olhar impassível dos militares presentes. Horas antes, promotores do Ministério Público e magistrados do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) haviam-se dirigido à base aérea para apreender o material da consulta prevista para o próximo domingo, considerada ilegal pela Justiça.
Zelaya aspira a modificar a Carta Magna para permitir a reeleição presidencial, mas essa iniciativa é considerada ilegal pelo Tribunal Supremo Eleitoral, pelo Congresso e a Promotoria, além da maioria das organizações sociais. O presidente hondurenho deu, assim, mais um passo no conflito que mantém nas últimas horas com os demais poderes do Estado, que desautorizaram a consulta sobre a reforma constitucional, que incluiria a reeleição presidencial.
Tanto a Corte Suprema de Justiça como o Congresso Nacional ordenaram a Zelaya nesta quinta-feira anular a destituição do comandante do Estado-Maior Conjunto, Romano Vásquez, removido na véspera por se negar a distribuir o material para a consulta.
Depois da decisão da Justiça, Manuel Zelaya fez um apelo a seus seguidores para que não deixassem que “grupos de poder tomassem o controle do país”. Em Caracas, o presidente Hugo Chávez advertiu que Zelaya é ameaçado por “um golpe de Estado que está em marcha”, ao estimar que a “burguesia” tenta impedir “a consulta popular”. “Têm medo do povo” “Da Venezuela, todo nosso apoio aos movimentos sociais, ao povo e ao presidente” de Honduras. “Abaixo a burguesia e viva o povo”, disse Chávez no seu programa de rádio e TV.
Chávez apoiou a decisão de Zelaya de destituir o general Romeo Vásquez e de invadir uma base militar para pegar o material, procedente da Venezuela, que será utilizado na consulta sobre a reforma constitucional. “Tomaram a base com o presidente à frente, os soldados correndo com o povo”, comemorou o líder venezuelano.