A vila da Manhiça, na província de Maputo, dormiu agitada no domingo (29) e acordou em ambiente de total caos na segunda-feira (30). Populares enraivecidos incendiaram duas residências e nove viaturas de um suposto traficante de seres humanos. Outras duas casas de pessoas ligadas ao suspeito também não escaparam. Em conexão com o caso, a Polícia deteve seis indivíduos, dos quais três mulheres, e os transferiu para a 18a. esquadra na capital do país.
Inácio Dina, porta-voz do Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), disse à imprensa, na tarde de terça-feira (01), que cerca de 800 pessoas de diferentes bairros dirigiram-se à residência de um presumível traficante de seres humanos, na noite de domingo, e atearam fogo nas habitações e viaturas a que nos referimos acima.
A vítima, identificada pelo nome de Vasco Chavane, “é um empreendedor local (…)”. Em seguida, a multidão deslocou-se à casa do ajudante do referido empreendedor e da mãe deste, onde incendiaram os seus domicílios.
Nas primeiras horas de segunda-feira, a população alastrou os tumultos para a Estrada Nacional número um (EN1) – a única via terrestre que liga o sul e norte de Moçambique – onde colocou obstáculos impedindo a circulação de viaturas por pelo menos três horas.
Para além de barricadas, algumas carcaças de viaturas foram usadas para obstruir a estrada e postas a arder. A resposta da corporação local foi insuficiente para repor a ordem, tendo sido necessário movimentar um contingente do município da Matola, e que chegado ao sítio arremessou gás lacrimogénio e desobstruiu a via.
O porta-voz do Comando-Geral da PRM contou ainda que os seis cidadãos ora privados de liberdade reuniram-se com a população no sábado (28), por isso, acredita-se que tenha sido nesse encontro considerado “clandestino” que foi programada a confusão. “Houve uma clara premeditação par criar desordem pública naquela zona e tudo o que é alegação [da população] é infundada (…)”.
Por seu turno, Filismina António Macuvele, 45 anos de idade, narrou a jornalistas, a partir da 18a. esquadra, que, há dias, alguns dos seus vizinhos sofreram roubos em dias seguidos mas os malfeitores não foram apanhados.
Na sequência disso, realizou-se a reunião a que Inácio Dina se refere, segundo as palavras daquela cidadã que assume ter liderado o grupo na qualidade de chefe de quarteirão.
“Nesse encontro havido no sábado cada morador queixou-se dos problemas de que era vítima e no fim nos dispersamos. Cada um foi para a sua casa”, relatou a senhora, acrescentando que, no domingo, por volta das 19h00, a população do bairro 8 – onde ela vive – foi surpreendida por uma multidão que se deslocou de outras zonas, tocando apitos e proferindo insultos em direção à casa de um indivíduo de nome Bernardo Bulo.
O cidadão foi tirado do seu domicílio à força e arrastado para algures, contou Filismina e salientou que, na qualidade de estrutura do bairro, ela afastou-se das pessoas que se agitavam porque não pode se envolver em confusão.
Todavia, “admirei quando a Polícia veio à minha casa, numa altura em que eu acabava de acordar, e mandou-me subir no carro” em que se fazia transportar.
Por sua vez, Mário António Fumo, 35 nos de idade, corroborou as declarações de Filismina, segundos as quais ele e outros moradores foram surpreendidos por uma multidão que se deslocou de outras zonas. “Não participei da confusão e não sei por que é que estou detido (…)”.
O caso ocorrido naquela parcela do país – a mais de 80 quilómetros a norte da cidade de Maputo – é a reedição da arruaça ocorrida em Janeiro deste ano, também num fim-de-semana, no posto administrativo de Zongoene, no distrito de Limpopo, província de Gaza, onde populares enfurecidos mataram duas pessoas, destruíram algumas infra-estruturas, incendiaram viaturas e pilharam vários bens, quando dezenas de residentes daquele ponto do país se mobilizaram e correram atrás de 12 indivíduos a quem acusavam de semear terror, há algum tempo.