O cerco aperta-se. O velho leão de Harare encontra-se cada vez mais isolado e sabe-se que os leões não aguentam muito tempo o estado de solidão. Não é por acaso que são os únicos felinos gregários, vivendo desde o nascimento até à morte em comunidade. Nos últimos tempos de vida, o rei da selva já não aguenta o esforço da caçada – embora quem persiga a presa seja quase sempre a leoa -, já não suporta qualquer corrida e mesmo a busca de água é executava de um modo muito arrastado, permanecendo por isso, nos últimos dias de vida, junto dos rios. Nestes derradeiros dias, limita-se a comer aquilo que a ágil leoa lhe proporciona. O seu comportamento torna-se, muitas vezes, iracundo acabando por se afastar do grupo para morrer.
Mugabe, todavia, embora se arraste no poder como o leão velho se arrasta na savana, parece não querer apartar-se dele. É incrível, mas ainda há três ou quatro dias afi rmou à imprensa ofi cial do seu país: “Concordamos em ceder-lhes [MDC, na oposição] 13 ministérios e partilharemos o do Interior, mas se o acordo fracassar dentro de um ano e meio ou dois, haverá novas eleições.”
Todavia, agora, os clamores que se elevam a favor da sua saída já não são só dos tradicionais inimigos como George Bush, Gordon Brown, União Europeia, Amnistia Internacional e outras organizações internacionais de direitos humanos. Agora são vozes do seu próprio continente, muitas delas de seus antigos camaradas, que apelam à sua saída. Nos últimos tempos, face à crescente tragédia humanitária que o país vive – a cólera já dizimou quase 600 pessoas e infectou outras 13 mil e a fome absoluta espreita mais de metade da população – a indignação contra Mugabe subiu exponencialmente. Agora já não é só o Botswana e a Zâmbia que exigem o seu abandono, mas também Raila Odinga no Quénia, Museveni no Uganda, o bispo Tutu e até veteranos de Guerra de Libertação, até aqui um dos sustentáculos do regime. Odinga e Tutu falam mesmo em desalojá-lo pela força se necessário for.
Porém, uma acção militar dos países da região contra o Zimbabwe para apear Mugabe revela-se bastante improvável. Falta capacidade militar e coragem política para fazê-lo. Aliás, a instituição militar parece ser a única coisa que realmente ainda funciona bem no Zimbabwe. O país possui 30 mil militares e 40 mil polícias bem treinados e bem equipados com armamento chinês relativamente sofi sticado. O exército possui igualmente experiência de combate devido à intervenção no Congo Democrático. A África do Sul é o único país na região capaz de levar a cabo uma intervenção desta natureza mas, curiosamente, foi dos poucos países que ainda não criticaram abertamente Mugabe. Mas nunca nos podemos esquecer do desastre que foi a intervenção do Lesoto, há uns anos.
A grande solução para o problema zimbabweano passa, em meu entender, por um bloqueio absoluto ao país. Coloquem o velho leão de quarentena. Fechem-lhe totalmente as fronteiras, cortem-lhe o combustível, imponham-lhe sanções económicas de violação impossível e verão que ele não durará muito. Porque nenhum país suporta por muito tempo uma infl ação de 4 dígitos, um desemprego de 90%, uma fome absoluta e uma epidemia incontrolável. Nessa altura, com o país totalmente paralisado, com o Governo sem dinheiro para pagar aos militares e estes sem combustível para abastecer os carros, a queda do seu líder será inevitável. Não é preciso muito tempo. Um mês pode ser sufi ciente.
Aqui, deste lado, temos sido meros observadores da crise, assobiando para o ar como se tudo se passasse na China. Talvez quando a cólera extravasar a fronteira em Machipanda – já chegou ao Botswana e à África do Sul – acordemos para o problema e reconheçamos que o que se passa com os nossos irmãos – há xhonas de um lado e do outro – da esquerda é muito grave e também nos diz respeito.
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