Intimidados pela ostensiva presença policial, adversários do primeiro-ministro Vladimir Putin desistiram de realizar novos protestos contra supostas fraudes nas eleições parlamentares russas do fim-de-semana, vencida pelo partido no poder Rússia Unida. Mais de mil pessoas já foram presas por actos contra o governo nos últimos dias. Somando a sua voz à dos manifestantes, o último líder soviético, Mikhail Gorbachev, disse que o pleito de Domingo foi “uma mentira”, e deveria ser repetido.
Mas, ignorando os protestos, Putin preencheu documentos necessários para se candidatar novamente à presidência em 2012. Político mais influente da Rússia, ele já ocupou esse cargo entre 2000 e 2008, quando entregou a presidência ao seu afilhado político Dmitry Medvedev e se tornou premiê.
Na terça-feira, a polícia dispersou manifestantes no centro de Moscovo e deteve mais de 300 pessoas que tentavam chegar ao comício. Diante disso, activistas da oposição convocaram uma nova manifestação para Quarta-feira no mesmo local.
Mas centenas de agentes com capacetes bloquearam o acesso à praça após o anoitecer, afastando jornalistas e gritando por meio de alto falantes: “Respeitados cidadãos, por favor não parem, circulem para não atrapalhar os outros”.
Três jovens saíram de uma estação de metro dos arredores gritando “Queremos eleições livres!”. A tropa de choque tratou de colocá-los num, entre dezenas de ônibus e camiões da polícia enfileirados nas ruas vizinhas.
Em São Petersburgo, cerca de 250 pessoas protestaram, a maioria jovens, aos gritos de “Vergonha!”. A polícia fez cerca de 70 detenções.
A oposição tenta manter a mobilização popular depois de reunir, Segunda-feira, cerca de 5.000 pessoas em Moscovo, no maior protesto contra o governo, na capital, em vários anos, sob o slogan “Rússia sem Putin”. A polícia e um porta-voz do Primeiro Ministro disseram que os protestos não autorizados serão impedidos.
O Ministério do Interior disse que cerca de 50 mil policiais e 2.000 agentes das forças especiais do ministério continuaram em Moscovo depois das eleições. Putin é favorito para conquistar um mandato presidencial de seis anos em 2012, com a possibilidade de ser reeleito para outros seis em 2018.
Mas as eleições parlamentares – em que a bancada do Rússia Unida encolheu de 315 para 238 deputados – sinalizou um desgaste do sistema político implantado por ele, do qual muitos russos se sentem alienados.
De acordo com os resultados oficiais, o Rússia Unida recebeu 49,4 por cento dos votos, mas a oposição diz que a cifra foi inflada por fraudes, como a colocação nas urnas de votos falsificados a favor do partido no poder.