A polícia grega lançou gás lacrimogêneo contra jovens encapuzados e munidos de pedras e coquetéis molotov, esta Quarta-feira (26), quando dezenas de milhares de gregos tomaram as ruas no maior protesto dos últimos meses contra as medidas de austeridade impostas no país.
Os confrontos ocorreram depois que mais de 50 mil pessoas marcharam rumo ao Parlamento sob os gritos de “não vamos nos submeter à troika (credores)” e “fora UE e FMI!”, num dia de greve nacional contra a nova rodada de medidas de austeridade determinadas pela UE e o FMI como exigência para dar mais ajuda ao país.
Ao final da manifestação, dezenas de jovens com roupas pretas lançaram pedras, coquetéis molotov e garrafas na polícia, que respondeu lançando gás lacrimogêneo. A polícia perseguiu os manifestantes pela praça Syntagma, em frente ao Parlamento, enquanto os helicópteros sobrevoavam o local.
Havia um pequeno foco de incêndio numa esquina. A greve, convocada pelos dois maiores sindicados do país, que representaram metade dos 4 milhões de trabalhadores gregos, é o primeiro grande teste à popularidade do primeiro-ministro Antonis Samaras.
A polícia estimou que o protesto foi o maior desde uma grande marcha em Maio de 2011, e foi um dos maiores desde que a Grécia pediu ajuda externa pela primeira vez em 2010.
“Não aguentamos mais isso, estamos a sangrar. Não podemos criar as nossas crianças dessa forma”, disse Dina Kokou, uma professora de 54 anos e mãe de quatro filhos que vive com uma renda mensal de 1.000 euros. “Esses aumentos de impostos e cortes de salários estão a matar-nos.”
A insatisfação está concentrada principalmente nos cortes de gastos de cerca de 12 bilhões de euros que o governo terá que fazer nos próximos dois anos, como parte do acordo da Grécia com a União Europeia e o FMI para receber uma nova parcela da ajuda.
Os cortes vão ocorrer nos salários, pensões e benefícios sociais, provocando uma nova onda de aperto financeiro para os cidadãos gregos que alegam que as repetidas medidas de austeridade os levaram à beira da falência e não melhoraram a situação do país.
As férias de verão deram ao governo de coligação liderado pelos conservadores uma calma relativa nas ruas desde que Samaras chegou ao poder com uma plataforma pró-euro e pró-resgate, mas os sindicatos preveem mais protestos com o fim do descanso.
“Ontem os espanhóis tomaram as ruas, hoje somos nós, amanhã serão os italianos e no dia seguinte, todo o povo da Europa”, disse Yiorgos Harisis, sindicalista do sindicato dos servidores públicos Adedy.
Cerca de 3 mil policiais, o dobro do usado normalmente, foram às ruas para proteger o centro de Atenas.
O último grande caso de violência nas ruas de Atenas fora em Fevereiro, quando os manifestantes colocaram fogo nas lojas e agências bancárias depois de o Parlamento ter aprovado as medidas de austeridade.