O Presidente da República, Filipe Nyusi, entende que o número cada vez mais significativo de moçambicanos que se abstêm de votar no país – a par do que aconteceu recentemente em Nampula, na primeira e segunda volta – tem a ver com o facto de “as pessoas não estarem documentadas” para exercer esse direito. Porém, uma investigação pan-Africana, o Afrobarómetro, concluiu que cada vez menos gente acredita nas eleições justas e o problema está no descrédito para o qual os processos resvalam.
“Algumas vezes pensamos que há problemas de abstenções nas eleições, mas tem sido também porque as pessoas não estão documentadas para puderem votar”, disse o Chefe o Estado, na segunda-feira (19), na Escola Secundária Josina Machel, onde ele a esposa recensearam-se.
Recorde-se que iniciou na segunda-feira o recenseamento eleitoral em todo o país, devendo decorrer de 19 de Março corrente a 17 de Maio próximo, nos 53 distritos com autarquias locais, no contexto de preparação das quintas eleições autárquicas, previstas para o dia 10 de Outubro deste ano.
As declarações de Filipe Nyusi são, contudo, ambíguas, na medida em que traduzem mais de um sentido. Um deles é que os moçambicanos não se recenseiam e, por conseguinte, não se fazem às urnas nas eleições por falta de documentos, o que não é de todo em todo mentira se admitirmos que, em Moçambique, ter um bilhete de identidade é ainda um luxo para milhares de cidadãos, sobretudo das zonas rurais.
“Muitas das vezes, falamos da democracia e inclusão”, mas esquecemos que “essa inclusão só pode ser feita tendo o direito ao voto”, disse Nyusi.
O estudo a que nos referimos expõe igualmente que poucos moçambicanos acreditam que as eleições são livres e justas. “Apenas um em cada três acreditam que os votos são “sempre” contados de forma justa (…).
“ Verifica-se ainda uma alegada “deterioração problemática na percepção pública das eleições e da democracia em Moçambique. O apoio popular à democracia e a satisfação com a sua implementação caíram de forma alarmante.”
