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Pedaço de Mafalala invade ex-casa do colono

Um pedaço do bairro suburbano da Mafalala, arredores de Maputo, encontra-se exposto no espaço Centro Cultural Franco Moçambicano (CCFM), em uma exposição artística da jovem Camila de Sousa, filha do conceituado cineasta Camilo de Sousa.

Mafalala é um dos subúrbios da cidade de Maputo com sérios problemas de urbanização, saneamento de meio e segurança, mas também constitui um dos berços do Nacionalismo Moçambicano e um dos principais palcos da luta ideológica contra a dominação colonial portuguesa.

É sobre este histórico e pobre bairro que a jovem Camila de Sousa montou a sua instalação “Mafalala Blues”, uma exposição audiovisual resultante de pesquisas realizadas nos últimos dois anos e meio. Este trabalho foi hoje visitado pelo Primeiro-Ministro, Aires Ali.

As ruas estreitas da Mafalala e as construções de madeira e zinco, retratando a história recente e antiga daquele subúrbio encontram-se nesta exposição em que também estão presentes (através de fotografias) personagens como Samora Machel, primeiro Presidente do país, bem como os poetas nacionalistas José Craveirinha e Noémia de Sousa.

Para a cidade cimento, antes propriedade exclusiva dos brancos colonos, os residentes da Mafalala também trouxeram os seus sonhos e sentimentos, um dos quais é expresso através da poesia de Noémia de Sousa, agora falecida, escrita há mais de 50 anos chamada “Eternos esquecidos na hora do banquete”.

“Mafalala Blues” é o sentimento de relembrar, vibrar, assim como era o blues na altura. É como dizia a Noémia de Sousa no seu poema “let my people go”. É o sentimento de relembrarmos para podermos criar”, disse a autora da exposição.

No seu contacto com jornalistas, o Primeiro-Ministro disse que a exposição tinha o mérito de resultar de um trabalho de investigação levado a cabo por uma jovem preocupada em saber e divulgar aspectos relevantes sobre a história do seu país.

“E é isso que temos de incentivar para elevar o nosso valor patriótico, através de investigação, fotografia e montagem de alto nível”, disse o governante, sublinhando que trabalhos do mesmo devem ser realizados em outros bairros e locais históricos de todo o país.

Aires Ali reconheceu haver muitos locais que foram importantes no desenrolar da história deste país, mas sobre os quais ainda não se tem nenhum registo. “Hoje conseguimos fazer exposição sobre Mafalala, mas se calhar daqui há 20 anos não vai existir”.

Então, “qual é o papel do Estado na preservação deste património cultural?”, perguntou a AIM ao Primeiro-Ministro. “O papel do Estado é exactamente este que ela (Camila de Sousa) fez. Ela trabalhou com o FUNDEC e outras instituições do Estado quando ela realizava o seu trabalho”, disse Aires Ali.

De facto, esta exposição contou com o patrocínio do FUNDEC, do CCFM, da Ébano Multimédia bem como das empresas Caminhos-de-ferro de Moçambique e Cetraco (uma propriedade privada).

Mas foi difícil ter acesso a estes patrocínios, a semelhança do que acontece para as diversas outras actividades artísticas. Aliás, segundo Camila de Sousa, os patrocínios só chegaram para cobrir 30 por cento das despesas inerentes ao evento, o resto foi custado por amigos e outras pessoas de boa vontade.

Apesar destas dificuldades, a Mafalala veio ao bairro cimento antigamente pertença exclusiva do colono e o desafio é devolver este pedaço suburbano ao seu próprio local ainda este ano.

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