Canalização de água deve ser prioritária na vila da Gorongosa
A canalização e a solução da crise de água, que afecta os 35 mil habitantes da vila da Gorongosa, uma nova autarquia na província central de Sofala, devem constituir prioridades dos órgãos municipais, a serem eleitos a 19 de Novembro próximo, num escrutínio que abrangerá 43 vilas e cidades autarcizadas do país.
Maior atenção deverá ser dada pelos futuros órgãos municipais à expansão da rede eléctrica, urbanização da vila e construção de mais mercados e habitações para os residentes. Esta posição foi defendida por alguns cidadãos entrevistados há dias pelo nosso Jornal que se deslocou àquela região declivosa (ou seja, acidentada geograficamente), com o intuito de auscultar os habitantes sobre o que gostariam de ver solucionado com a implantação da autarquia naquela vila. “A falta de água constitui uma dor de cabeça para nós aqui em Gorongosa, pois as pessoas permanecem horas a fio nas bombas para obter apenas 20 litros”, explicaram as cidadãs Adélia João Benedito e Fátima Paulino, todas desempregadas, e portanto, domésticas.
Elas querem que as pessoas que forem eleitas tenham “este recado” em mente, argumentando que já basta os habitantes sofrerem. Referiram que a crise de água faz com que as outras actividades quotidianas sejam relegadas para segundo plano. “Que tenhamos água canalizada e pensamos que os nossos dirigentes municipais farão questão de resolver esse problema”, sustentaram, para depois explicar que a construção de casas para arrendamento seria benéfica para a comunidade, porque actualmente as pessoas vivem em condições precárias, devido à falta de poderio financeiro. As jovens Imaculada Gonga e Cecília Abílio (alunas) disseram que “nós queremos a instalação de uma casa de cultura, para podermos nos divertir, como acontece noutras cidades e vilas já autarcizadas”. Um dos trabalhadores de um estabelecimento hoteleiro, José Campira, afirmou que recebeu com satisfação a notícia da instalação da autarquia na vila da Gorongosa, sustentando que “assim vai mudar o modo de vida dos munícipes”. “Estamos a chorar por causa da água, que não chega para todos, para além de que não é canalizada, queremos também as ruas nos bairros e que a energia eléctrica abranja mais zonas, pois até agora só existe no corredor”, sublinhou, afirmando que “eu espero que a nossa vila venha a ter uma nova face”. Um funcionário do Serviço Distrital da Educação, Juventude e Tecnologia de Gorongosa, Bernardo Ernesto Domingos, disse esperar que com a municipalização da vila haja um rápido desenvolvimento em todas as vertentes e, consequentemente, o bem-estar dos munícipes. “Aqui há problemas de água. Para além da crise, não está canalizada, quero ver a vila urbanizada, o que mostrará nova cara a quem passa, já que estamos no corredor centro- nordeste do país, acredito no trabalho que será levado a cabo pelos futuros órgãos municipais”, comentou.
O entrevistado espera que haja desenvolvimento rápido, porque tais condições influenciaria a entrada de mais agentes económicos, dado que os órgãos municipais estabelecerão os acordos de gemelagem com outras cidades, conforme tem acontecido com os outros municípios. Vitória Ricardo e Flora Ricardo (irmãs) referiram que “acreditamos que a vila terá outra imagem”. Para além disso, haverá mais empreendimentos que serão conquistados durante os cinco anos de mandato. De acordo com as suas palavras, na vila da Gorongosa só há um empreendimento de grande dimensão, disse referindo-se à moageira e à fábrica de ração. João Chombe, trabalhador de um quiosque, disse que espera que haja mais postos de trabalho para muitos cidadãos que estão desempregados, os quais se sujeitam a grandes gincanas para a sua sobrevivência. Outro cidadão entrevistado responde pelo nome de João Dezanove. “Para mim, o problema número um é a água e o segundo é a instalação do mercado num local espaçoso, porque do jeito como está o actual, não ajuda nada ao desenvolvimento das actividades”, afirmou. O terceiro problema é as ruas que não existem, o que dificulta a evacuação de doentes em estado de emergência. É necessária também a expansão da corrente eléctrica, de acordo ainda com o nosso interlocutor. “Espero que os nossos pedidos para construção sejam céleres, ao invés de ficar um ano, como tem acontecido na Administração. Portanto, queremos obter as respostas o mais rápido possível” – acrescentou. Tarefeiros…
Entrevistámos igualmente alguns jovens, que disseram que, devido à falta de emprego, meteram-se num negócio que muitos desprezam. São tarefeiros, conhecidos localmente por “madjolidjo”. “Para ser tarefeiro é preciso coragem, porque o nome de madjolidjo é desprezível e normalmente a pessoa anda suja, por estar a carregar bagagens algumas das quais também sujas”, disse Sarno Utumbowanhoca. O nosso entrevistado tem 24 anos de idade. Afirmou ter começado com o seu negócio a partir de 1997, período durante o qual está a sustentar os seus três filhos e esposa. “Se tivesse emprego não me meteria nisso”, precisou, acrescentando: “espero que com a municipalização nós os jovens possamos ter emprego”. Marques Mutambuzo, também “madjolidjo” comunga as mesmas ideias, ao afirmar que “estamos satisfeitos por ouvirmos que a nossa vila já é município e penso que a nossa vida vai mudar para melhor”. Outros jovens tarefeiros abordados pela nossa Reportagem são Sérgio Mário, Pita João, Félix Zacarias e Manuel Verniz, os quais disseram que durante o dia do trabalho árduo de carregar sacos e outras bagagens, cada um consegue uma média de 80 Meticais, mas quando não há “movimento” a receita baixa para 50 Meticais. O candidato a cargo de presidente municipal pela Frelimo, Moreze Joaquim Cauzande, garantiu que caso ganhe as eleições, realmente vai priorizar a canalização de água, instalação de mais mercados, recolha de lixo, expansão das redes eléctrica e sanitária e urbanização. “A nossa vila é declivosa, por isso sofre os efeitos da erosão, um dos males que combateremos durante a nossa governação”, acrescentou Cauzande. Moreze Cauzande afirmou que espera solucionar os problemas aplicando os fundos que angariará através das parcerias a serem estabelecidas dentro e fora do país. “O nosso distrito é um potencial turístico por excelência, por isso, contaremos com apoios de muitos na gestão destes recursos”, sublinhou, para depois referir que, para o caso de água, começará por reabilitar o pequeno sistema que em tempos funcionou, encontrando-se actualmente danificado, embora não esteja ainda avaliado o custo real das obras.
Abordámos o administrador do distrito da Gorongosa, João Oliveira, que disse o seguinte: “Nós estamos satisfeitos, por sermos desta vez contemplados no rol das autarquias, porque sabemos que com o funcionamento dos órgãos municipais as condições de vida dos munícipes mudarão, na medida em que está dado o aval para a celebração de acordos de parceria entre várias instituições e singulares”. Na vila da Gorongosa existem 25 fontes de água, um número que João Oliveira considera de insuficiente para cobrir as necessidades dos 35 mil habitantes. “Então, achamos que com este problema merecerá prioridade das prioridades”, referiu. “Esta é uma mais-valia para os habitantes da vila de Gorongosa, pois quem sabe, um dia poderá ser uma cidade, visto que a tendência será de crescimento”, sublinhou.