Quando se pensa em material nuclear caindo em mãos erradas, o Paquistão, os países da ex-União Soviética e a Coréia do Norte ficam no topo da lista das nações que representam um risco, dizem os especialistas. Mas dezenas de reatores nucleares civis espalhados pelo mundo também podem significar uma ameaça.
Eles são alvos tentadores para os extremistas que procuram urânio altamente enriquecido ou plutônio para elaborar uma bomba atômica. Enquanto o presidente Barack Obama advertia na segunda-feira sobre o perigo do “terrorismo nuclear” durante o encontro com 47 nações em Washington para discutir a segurança atômica, analistas dizem que o clima volátil no Paquistão representa uma ameaça em potencial.
Apesar dos centros nucleares do Paquistão estarem fortemente protegidos, diversos governos temem que os militantes islâmicos possam roubar armas ou material físsil com a ajuda de aliados infiltrados no serviço de inteligência. As reservas do país são pequenas, apenas uma fração das russas e de outras potências nucleares, mas a crescente força dos extremistas no Paquistão e as tensões com o rival nuclear, a Índia, oferecem uma mistura explosiva.
“É um programa bem pequeno, mas sabemos que parte do governo se simpatiza muito com a Al-Qaeda”, contou Daniel Byman, diretor do Centro de Estudos pela Paz e Segurança da Universidade de Georgetown. Militantes contrários à Índia do grupo Lashkar-e-Taiba, suspeitos de envolvimento nos atentados de 2008 em Mumbai que deixaram 166 mortos, representam o maior perigo para a segurança do arsenal paquistanês, disse Bruce Riedel, ex-oficial da CIA.
O Paquistão ainda tem que lidar com o Lashkar-e-Taiba, em meio a especulações de que o serviço secreto de Islamabad usa o grupo para atingir seu arqui-inimigo, a Índia. Na Rússia e nos países da ex-União Soviética, as autoridades aumentaram drasticamente a segurança em inúmeras instalações nucleares que sofreram com condições caóticas em 1990. Mas boa parte dos bunkers, laboratórios e reatores espalhados pela ex-URSS ainda não possuem a segurança adequada e nem se sabe ao certo a quantidade de armas estocadas. “Sabemos que existe material que não foi verificado. Poderia estar guardado em um galpão qualquer. Existem sérios problemas”, informou Byman.
A Coreia do Norte foi acusada de vender um reator capaz de produzir plutônio para a Síria e governos ocidentais temem que o país esteja fornecendo material nuclear e tecnologia no mercado negro. A suposta venda para a Síria “sugere que a Coreia do Norte pode querer vender para outros”, disse Byman. Os governos acordaram recentemente para o risco que representam os estoques de armas e os centros de pesquisas nucleares, além de outras instalações civis espalhadas pelo mundo, informou um relatório emitido na segunda-feira.
Por volta de 60 toneladas de urânio altamente enriquecido é utilizado por civis ou estão estocadas, a maioria em centro de pesquisa, com aproximadamente metade desse montante fora dos Estados Unidos e da Rússia, disse o relatório elaborado por analistas da Universidade de Havard. Apesar de algumas medidas duras, o relatório diz que “a maioria dos centros de pesquisa nucleares civis tem sistema de segurança modesto, em muitos casos não mais do que um guarda noturno e uma grade com cadeado, mesmo quando estão lidando urânio enriquecido”.
Em 2007, homens armados invadiram um desses centros na África do Sul, onde havia urânio suficiente para 30 armas nucleares. O material não foi roubado, mas os bandidos escaparam ilesos. Esforços internacionais para guardar a substância se focam em parte na proteção do urânio que foi distribuído por potências nucleares nas últimas décadas, durante o programa “Átomos pela Paz”. Cerca de 20 mil quilogramas de urânio foram recolhidos, enquanto a ONU inspecionava e assegurava se o material seria usado para fins pacíficos. O governo dos EUA tenta proteger o urânio nos últimos anos, mas alguns países resistem dizendo que precisam do material para produzir isótopos com objetivos médicos.