Um fragmento de papiro antigo que uma pesquisadora de Harvard afirma conter a primeira menção registada de que Jesus pode ter tido uma mulher é uma farsa, disse o Vaticano, esta Sexta-feira (28).
“Razões substanciais levam a concluir que o papiro é realmente uma falsificação grosseira”, disse o jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, num editorial escrito por seu editor, Gian Maria Vian. “De todas as formas, é uma farsa.”
Ampliando um debate acadêmico altamente carregado de tensões sobre a autenticidade do texto, escrito em egípcio copta, o jornal publicou uma longa análise feita pelo especialista Alberto Camplani, da Universidade La Sapienza, de Roma, destacando as dúvidas sobre o manuscrito e pedindo cautela extrema.
O fragmento, onde lê-se “Jesus disse-lhes, a minha mulher” foi apresentado pela professora de Harvard Karen King como um texto datado do século 4, num congresso de estudos coptas em Roma, semana passada.
O estudo dividiu a comunidade acadêmica, com alguns saudando como uma descoberta histórica enquanto outros rapidamente expressaram dúvidas sobre a autenticidade.
“É realmente muito improvável que ele seja autêntico”, afirmou o docente Francis Watson, da Universidade de Durham, à Reuters, depois que ele publicou um artigo defendendo que as palavras no fragmento eram um rearranjo de frases de um texto copta bem conhecido.
Num email enviado à Reuters após o término da conferência e antes do editorial do Vaticano, Karen disse: “Se, no final, o fragmento for mostrado como autêntico, ainda está para ser finalmente determinado, mas a conversa séria entre os estudiosos já começou.”
Durante a conferência, Karen, de Harvard, destacou que o fragmento não deu “nenhuma evidência de que Jesus foi casado ou não”, mas que os primeiros cristãos estariam a conversar sobre a possibilidade.