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Os meninos das mãos queimadas

Os meninos das mãos queimadas

Os irmãos Jordão e Constantino Mahapari, de 5 e 3 anos de idade, respectivamente, cujas mãos foram queimadas pela própria mãe, há sensivelmente duas semanas, por terem roubado amendoim, encontram-se a recuperar dos ferimentos graves causados pelo fogo, mas dizem que continuam a sentir a mesma dor do dia em que a progenitora atou os braços e os colocou no lume.

Os pequenos Jordão e Constantino vão carregar pela vida inteira as marcas da crueldade da sua progenitora. A nossa reportagem deslocou-se à comunidade de Muampe, na zona de Metocheria, local onde os meninos se encontram a residir, agora sob os cuidados do seu pai e da sua avó.

Eram por volta das 12h00 quando chegámos àquela localidade que dista cerca de 35 quilómetros da sede do distrito de Monapo.

Encontrámos Jorge Alberto Mahapari, de 33 anos de idade, pai dos menores, preocupado em preparar o almoço para levar para as celas do comando distrital da Polícia da República de Moçambique (PRM) onde se encontra a sua esposa.

Os miúdos moram numa pequena palhota, rodeada por machambas. Quando chegámos, o mais velho encontrava- -se a trabalhar e o mais novo a brincar, pese embora os ferimentos ainda se encontrem numa situação delicada e a precisar de cuidados. Constantino tem o braço e os cinco dedos da mão direita inchados e cobertos por uma camada de medicamento tradicional.

As crianças não falam português, apenas emacua. Começámos por conversar com Constantino que disse não perdoar a mãe pela barbaridade que cometeu, porém, afirmou que “apesar de tudo, tenho saudades dela” e acrescentou que as feridas doem bastante.

Constantino conta que a situação aconteceu no período da tarde, embora não se lembre do dia. Jordão recorda-se do sucedido.

“Foi no período da tarde. A mamã veio da machamba e começou a zangar connosco por supostamente roubarmos as coisas do vizinho. Na verdade, tem sido o gato ou os cães que comem os produtos, uma vez que a casa não tem porta”, contou o petiz, tendo acrescentado que “ela amarrou-nos os abraços, acendeu o fogo, e ficou a olhar para nós. Tempo depois, tentou apagar o lume com água, mas já era tarde demais”.

Num outro ponto, Jordão avança que, depois de terem os braços queimados, refugiaram- se na casa do tio, o qual os levou para o hospital de Carapira, tendo de seguida denunciado o caso às autoridades policiais.

A família dos petizes está revoltada com o facto de a mãe das crianças encontrar-se presa, sobretudo com as crianças e o tio que levou o caso para a polícia do posto administrativo de Nacololo. Quando conversávamos com as crianças, o pai obrigava os miúdos a falar, acusando-as de terem criado problemas no seio familiar, além de os ameaçar de castigos.

O pai dos menores negou as informações segundo as quais os miúdos teriam sido tratados daquela maneira por terem roubado somente amendoim, argumentando que os mesmos apropriaram-se dos produtos alimentares da vizinhança, nomeadamente pão, amendoim e banana, e fazem necessidades no interior da casa.

Agastados com a situação, os vizinhos obrigaram a família a pagar 50 meticais pela atitude dos seus filhos. Sem dinheiro, a mãe dos petizes esperou que o seu marido fosse à machamba para cometer a crueldade como forma de castigá-los.

Neste momento, a mãe encontra- se sob custódia policial em Monapo, onde aguarda o julgamento. Os dois menores estão a receber tratamentos tradicionais, dado por uma vizinha. Soubemos ainda que um enfermeiro reformado que vive na aldeia está aplicar a injecções.

As crianças disseram ao @Verdade que, apesar de a mãe ter cometido o crime, não devia estar presa, pois sentem falta dela. Jorge Mahapiri, o pai dos miúdos, e a sua esposa acreditam um dia poderem pedir desculpas aos seus filhos pelos males cometidos, embora afirme que ainda não sabe se depois da soltura da sua esposa voltará ou não a viver com ela.

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