Cerca de cinco centenas de cidadãos exerceram, no passado sábado(27) em Maputo, o seu direito constitucional de se manifestarem em repúdio à guerra. “Os conclaves do Governo e a Renamo só perpetuam o Moçambique que não queremos” afirmou na ocasião Salomão Muchanga do Parlamento Juvenil reiterando a necessidade da sociedade civil participar no diálogo em curso na busca da paz e apelou à responsabilização dos políticos que endividaram Moçambique ilegalmente e precipitaram a crise económica e financeira que estamos a viver. “A dívida da EMATUM tem dono, queremos dizer a PGR que não se limite apenas a lamentar mas que tome uma posição enérgica para responsabilização do atum que tem que ser congelado”.
“Aonde está o povo, o povo está a dormir, a ser matrecado” foi uma das frases de ordem ouvidas na marcha que partiu da estátua de um dos fundadores da Frente de Libertação de Moçambique, Eduardo Mondlane, mas voltou a contar com pouco adesão dos moçambicanos quiçá em resultado da campanha de desencorajamento levada à cabo por sectores da sociedade ligados ao partido no poder e pela Polícia da República de Moçambique(PRM) que pediu a sua desconvocação “por razões estritamente de segurança”, em missiva enviada à organização na véspera do evento.
Importa recordar que desde que o Parlamento Juvenil tornou pública a realização da “Marcha popular pela Paz” a pertinência da mesma foi colocada em causa, primeiro por membros do Governo e seguidamente por representantes de organizações da sociedade civil próximas ao partido Frelimo.
Apesar de todas ameaças jovens, cidadãos da terceira idade e algumas crianças de ambos os sexos marcharam pelas avenidas Eduardo Mondlane, Karl Marx até a praça da Independência.
“Olá estrangeiros” cumprimentaram os manifestantes aos vários mirones que nos passeios e à janela assistiam, e usavam os telemóveis para registar a marcha pacífica, mas que foi “protegida” por cerca de uma centena de agentes de vários ramos da PRM transportados em dezenas de automóveis ligeiros, motas e até viaturas blindadas anti-motim.
“Quem não teve coragem não está aqui”
Dirigindo aos cidadãos na praça da independência, onde a marcha teve o seu epílogo, Alice Mabota afirmou que “esta é a marcha da juventude, na nossa campanha dizíamos que quem vai ficar a sofrer se não fizer o País compreender vão ser vocês. Marchem, mostrem a vossa indignação, digam o que está nos vossos corações para que nós que vos perturbamos possamos mudar”.
“Algumas pessoas perguntavam se estou feliz com estas pessoas que estão aqui, eu disse olha ocupamos a avenida Eduardo Mondlane toda até aqui porque esta marcha foi muito combatida e mesmo assim vocês mostraram atitude de coragem e estão aqui connosco. Continuem a lutar por aquilo que é vosso, o hino nacional disse nenhum tirano nos vai escravizar. Quem não teve coragem não está aqui!” acrescentou a activista social que foi um dos rostos da marcha.
“Queremos estar presentes na discussão, na definição dos destinos da nação”
Salomão Muchanga, líder da organização da sociedade civil que liderou a marcha, disse no seu discurso que esta foi uma de várias acções de cidadania que são necessária no nosso País. “Esta é a cidadania da rua, estamos a construir a consciência da elevação da dignidade humana em Moçambique. Uma juventude não conformada com a situação que tem, e sempre se começa assim”.
“Para se libertar Mandela na África do Sul foram milhares e milhares de marchas, para os negros tomarem o poder na América foram milhares e milhares de marchas, nem começaram com Martin Luther King. Mas as pessoas foram-se libertando a cada dia, libertando-se primeiro da pobreza política, estabeleceram um novo modelo comportamental de intervenção social, buscando permanentemente uma função política e social compatível com a sua época” afirmou Muchanga.
“Em cada época há desafios, os nossos desafios hoje, em primeiro lugar é estabelecer a paz. Não uma paz vai-e-vem, não uma paz intermitente, não uma paz faz de conta, não uma paz entre a Frelimo e a Renamo, uma paz entre os moçambicanos, uma paz sustentável e duradoura” acrescentou.
O líder do Parlamento Juvenil reiterou o pedido formal que a organização efectuou à Comissão Mista, que está a preparar o encontro entre o Presidente Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama e que poderá conduzir ao término da guerra que dura à cerca de um ano, “queremos estar presentes na discussão, na definição dos destinos da nação. Os conclaves do Governo e a Renamo só perpetuam o Moçambique que não queremos”.
“Por um lado uma governação cada vez mais excludente e por outro posições desencontradas à cada momento, é mais fácil fazer a guerra do que a paz. Mas a paz é o elemento fundamental para construirmos um país de progresso, um país em que os seus cidadãos se reencontram com os direitos humanos. Fazemos esta marcha para exigir o fim da guerra, não com trégua mas o fim da guerra” declarou Salomão Muchanga.
Relativamente a outra demanda da marcha, “Stop Fome” que deriva do elevado custo de vida que tem-se agravado desde que foram descobertas as dívidas secretamente contraídas pelas empresas Proindicus, MAM e EMATUM, o líder do Parlamento Juvenil afirmou que elas têm dono, “queremos dizer a PGR que não se limite apenas a lamentar mas que tome uma posição enérgica para responsabilização do atum que tem que ser congelado”.
“Atum na mesa, pato na cadeia” gritaram os manifestantes.