O rapper e activista social moçambicano, Edson da Luz (Azagaia), actuou, recentemente, em Luanda, Angola, para uma plateia de mais de três mil pessoas. Figura incontornável nos shows de Hip Hop do país irmão, o artista é também “irmão” e companheiro de “rima honesta” de McK, rapper angolano considerado, este ano, um dos 10 mais influentes da cultura Hip Hop em África, pelo site sul-africano www.matadornetwork.com. Para nós, fica a lição: o “Cubaliwa” está na “área” e até os nossos irmãos angolanos cantam-no em uníssono!
Ainda não eram cinco da tarde, em Luanda, quando passámos, pela primeira vez, à porta do Cine Atlântico, a catedral da música da capital angolana. Pelo tamanho da fila, que se estendia quase até à Praça da Independência – onde se encontra a estátua do libertador Agostinho Neto – o serão prometia ser longo, de acordo com o “lineup” para aquele início de noite com hora marcada para as 19h.
Houve quem quis ser o primeiro a entrar no recinto para assistir de perto os novos libertadores do século XXI, que utilizam a rima e a palavra para exorcizarem aquilo que preocupa milhões de pessoas no mundo. Angola e Moçambique – pelo passado e pelo presente – continuam unidos nas diferenças sociais e na chamada de atenção à realidade social, pela voz destes rappers que vão ganhando cada vez mais espaço internacionalmente.
Apesar da segurança apertada, dentro e fora do recinto – por parte da organização e das autoridades – a entrada iniciou pacífica e em menos de uma hora os bilhetes esgotaram. Os rappers estavam a postos, no “backstage”, preparados para “cuspir” as suas rimas. Palavras que doem a alguns e acalentam aqueles que não têm outra forma de ver os seus problemas espelhados.
Lá dentro, o palco do Cine Atlântico estava decorado a rigor – com livros estrategicamente espalhados – para receber os pensadores. O concerto começou com o mix dos Djs de serviço. Por ali passaram McK, o anfitrião, e os seus convidados K Bide – menino do Rio que confessou ouvir Azagaia e McK “há muito tempo e tinha como sonho vir a Angola” – os nacionais Kid Mc, Eva Rap Diva, Phai Grande, Flagelo Urbano, Brigadeiro Mata-Fracos e Samurai.
A cereja no topo do bolo apareceu na recta final do concerto. Azagaia veio quebrar a espera longa pela sua aparição e houve quem já não acreditasse que o músico lá se encontrava. Trajado a rigor, entrou em palco com a sua “crew”. Três jovens angolanos, cada um com uma bandeira: Moçambique, Angola e o “reinado” do Super Azagaia estavam unidos.
Nandele Maguni, Dj dos Cortadores de Lenha, – banda de Azagaia – soltou o primeiro beat: “Calaste”, a música que inicia a viagem pelo álbum “Cubaliwa” e que já é um hino para quem acompanha o cantor. Seguiu-se o “ABC do Preconceito” que mostrou a Azagaia que deste lado, em Angola, o abecedário das desigualdades já é bem conhecido.
“Países do Medo”, rima partilhada com McK e Valete para o “Cubaliwa”, terminava assim a participação – de apenas 15 minutos – de Azagaia nesta festa de Hip Hop com um público rendido à sua presença e ao que de novo trazia.
“Fiquei surpreendido com a aceitação do público. Senti que já conhecem o álbum e os que não conhecem estiveram muito atentos. Foi muito bom participar neste concerto do meu mano McK. Estava em casa!”, confessou Azagaia já à porta do aeroporto, de regresso a Moçambique. Ele. Promete voltar em breve, com os “Cortadores de Lenha”.
Escrito por Magda Burity da Silva