A oposição venezuelana entendeu que a ausência do Presidente Hugo Chávez e a incerteza sobre o seu estado de saúde pode ser um trunfo. Um deputado em particular, Pablo Medina, sem recurso às habituais meias palavras, disse que se trata de um “abandono de poder” e, em declarações publicadas no jornal “El Nacional”, exigiu que o Parlamento active os mecanismos constitucionais para substituir o actual mandatário.
Até ao fim-de-semana, o Governo venezuelano tinha-se escusado a prestar qualquer declaração sobre Chávez, a não ser que se encontrava em Havana quando teve que ser operado de urgência a um problema pélvico. Apesar das especulações – um jornal de Miami, o “Nuevo Herald”, chegou a garantir que estava em estado crítico, citando os serviços secretos dos EUA -, da demora no regresso (a cirurgia foi no dia 10 de Junho) e da ausência de imagens do Presidnete (apenas uma, em fato de treino).
O vice-presidente, Elias Jaua, apareceu finalmente a criticar a direita, nacional e internacional, por estar ao inventar uma suposta deterioração do estado de saúde do Presidente. “Vamos ter Hugo Chávez durante muito tempo”, disse em declarações transmitidas pela televisão estatal venezuelana. O Presidente “está a recuperar para continuar a batalha”.
A saga presidencial começou durante um périplo pelo Brasil, Equador e Cuba. Chávez acabou por ser operado de urgência em Havana no passado dia 10 de Junho a um “abcesso pélvico”. Depois disso as informações oficiais cessaram. Chávez está ausente da Venezuela há 22 dias. Não foram divulgados relatórios médicos e circulam na Venezuela notícias sobre um possível cancro na próstata, e não o oficial abcesso pélvico.
A oposição já avançara que Chávez estaria a recuperar bem, e que estaria a encenar “um milagre” e um regresso triunfal ao seu país a 5 de Julho, quando se celebram os 200 anos da independência da Venezuela. Através da conta de Twitter [@chavezcandanga] de Chávez foram publicadas algumas mensagens a propósito da celebração do dia do Exército no passado dia 24 de Junho, mas desconhece-se se foi o Presidente que escreveu as mensagens pelo seu próprio punho. Mas em Caracas o vazio de poder está a ser sentido e muitos começam a considerar a sucessão de Chávez.
O analista político Carlos Raúl Hernández indicou ao jornal espanhol ABC que para além do estado de saúde de Chávez, está em causa “a saúde das instituições da Venezuela. “Não existe um país civilizado no mundo onde um Presidente faça o que lhe dê na gana”. Carlos Raúl Hernández estima ainda que existe um conflito pela sucessão entre “o irmão do Presidente, Adán Chávez, governador de Barinas, os seus familiares, os militares e diversas facções do ‘Chavismo’”.
Os únicos que podem substituir Chávez temporariamente – segundo a Constituição – são o vice-Presidente do país, Elías Jaua, e o presidente da Assembleia Nacional, o ex-guerrilheiro Fernando Soto.