Um grupo da oposição síria no exílio disse, Segunda-feira, que está a preparar-se para, com ajuda do exterior, fornecer armas aos rebeldes que lutam contra o presidente Bashar al Assad. No mesmo dia, os activistas e o governo acusaram-se mutuamente por um massacre na cidade de Homs.
Dezenas de pessoas foram mortas a sangue frio no fim-de-semana em que o enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, esteve na Síria a tentar mediar um acordo que incluiria uma trégua, o acesso humanitário aos civis e um diálogo político.
Um porta-voz do Conselho Nacional Sírio pediu às potências estrangeiras que intervenham, e disse que o grupo da oposição já estabeleceu um escritório de coordenação para enviar armas para os rebeldes, com o auxílio de governos estrangeiros.
Ele não disse quais países participam da iniciativa, nem onde fica o escritório. “Exigimos uma intervenção militar dos países árabes e ocidentais para proteger os civis”, disse George Sabra aos jornalistas em Istambul.
“Exigimos o estabelecimento de corredores humanitários seguros e de zonas para a protecção de civis. Exigimos a implementação de zonas de exclusão aérea sobre toda a Síria para evitar que Assad continue os massacres.”
A rebelião popular contra as quatro décadas de domínio da família Assad sobre a Síria começou há um ano, como parte da chamada Primavera Árabe. Reprimidos com violência, os protestos deram origem a oposição armada, deixando a Síria cada vez mais próxima duma guerra civil.
A ONU estima que as forças sírias já tenham matado mais de 7.500 pessoas. O governo diz que os “terroristas armados” patrocinados pelo exterior promovem os distúrbios, e que 2.500 soldados e policiais já foram mortos.
“O governo sírio tem deixado de cumprir a sua responsabilidade de proteger o seu próprio povo, e ao invés disso está a submeter os seus cidadãos em várias cidades a uma ofensiva militar e ao uso desproporcional da força”, disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. “Essas vergonhosas operações continuam.”
Os activistas em Homs e a TV estatal mostraram vídeos de corpos ensanguentados e com as mãos atadas às costas, jazendo nas ruas cheias de lixo e nos quartos respingados de sangue. Os dois grupos acusaram-se mutuamente pela chacina.
Os activistas disseram que os militantes leais a Assad mataram mais de 50 pessoas num bairro de Homs chamado Karm al Zeitoun.
Já a TV estatal afirmou que os militantes cometeram os crimes para influenciar uma reunião especial do Conselho de Segurança da ONU, Segunda-feira, que discutiria as revoltas árabes.
Por causa das restrições impostas pelo governo ao trabalho da imprensa, é difícil avaliar os conflituosos relatos feitos por governo e oposição sobre o incidente.
“Os grupos armados terroristas sequestraram vários civis em Homs, mataram e mutilaram os seus corpos, e os filmaram para que fossem exibidos por meios de comunicação estrangeiros”, disse a agência estatal de notícias Sana.
Uma fonte médica no bairro de Khalidiya, reduto rebelde de Homs, disse que os activistas não encontraram sobreviventes nas casas onde o massacre aconteceu.
“Vi duas pessoas do sexo feminino que foram estupradas, uma com cerca de 12 ou 13 anos. Ela estava coberta de sangue e tinha as roupas íntimas arrancadas”, disse a fonte médica, que se identificou apenas como Yazan.
“Uma das mulheres estava estrangulada; ela tinha arranhões no pescoço. Alguns dos corpos que eu vi, especialmente das crianças, tinham as gargantas cortadas.”
Os investigadores da ONU disseram, Segunda-feira, que as forças sírias impuseram punições colectivas aos civis, e acusaram-nas de cometerem execuções e prisões em massa no bairro de Baba Amr, um reduto rebelde que passou 26 dias sob cerco até ser invadido no início do mês.
Os activistas disseram que centenas de pessoas foram mortas. O embaixador sírio junto à ONU em Genebra acusou o relatório de ter um viés político, e disse que os combatentes da Al Qaeda de 13 países infiltraram-se na Síria para combater Assad.

