Odetta Jones, a cantora de folk e blues cujas interpretações de hinos dos direitos civis marcaram momentos históricos, e fi zeram história, morreu na terça-feira, dia 2, em Nova Iorque. A cantora, que enfrentava há anos problemas cardíacos e pulmonares, morreu no hospital de Lenox Hill, onde fora admitida em Outubro por causa de uma falha renal, segundo o seu manager, Douglas Yeager.
Foi a esperança de ainda vir a cantar para festejar a tomada de posse de Barack Obama como Presidente dos Estados Unidos, a 20 de Janeiro, que a manteve viva nas últimas semanas, apesar de os médicos a terem informado de que as possibilidades de sobreviver a esta crise eram nulas, disse Yeager.
Em Março de 2007, Odetta assistiu a um concerto em Washington em sua homenagem. Era por si só uma maravilha que ela tivesse aceitado ir, quanto mais cantar, lembrou ontem pela manhã o seu manager numa breve entrevista. Depois, acrescentou, subiu ao palco para dizer “olá” ao público. De repente, começou a cantar um dos temas a que era mais frequentemente associada, ‘This little light of mine’. “Ninguém conseguiu explicar” a sua vitalidade e determinação. Pelo menos três vezes, nos últimos dez anos, quando era dada como estando às portas da morte, Odetta apareceu em público e, ainda por cima, cantou.
“Ela era uma das grandes cantoras da América do século XX”, disse o músico e activista pela paz Pete Seeger, que conheceu Odetta numa festa folk em 1950. “Ela cantava a sério, sem truques”, acrescentou numa entrevista. Os seus espectáculos não incluíam tiques, idiossincrasias e artifícios que pudessem pôr em causa a mensagem das palavras e melodias que cantava, disse. O seu poder, a capacidade de ser directa, “impressionou milhões de pessoas, acrescentou. Seeger e o cantor Harry Belafonte foram dos seus primeiros apoiantes.
Odetta foi reconhecida como infl uência importante na carreira de outros grandes nomes do mundo da música. Neste grupo incluemse Bob Dylan, Janis Joplin, Joan Baez e Joan Armatrading, que têm defendido frequentemente que devem muito à sua inspiração. “Eu sou a mãe e eles são os fi lhos”, disse Odetta quando uma vez lhe perguntaram quem tinha infl uenciado quem.
Odetta Sings Ballads and Blues (1956), o primeiro disco a solo da cantora, foi fundamental para Dylan: “[Foi] a primeira coisa que me virou para a música folk… Era simplesmente muito vital e pessoal.”
Além disso, era a sua voz, com aquela paixão e o sabor soul, que soava nos ouvidos de todos aqueles que marcharam, fi zeram piquetes ou protestaram de qualquer outra forma durante as grandes manifestações pelos direitos civis. Anos depois da histórica marcha sobre Washington, em 1963, Odetta foi recordada como a mulher que cantou nos degraus do Lincoln Memorial depois de uma introdução do reverendo Martin Luther King.
Odetta nasceu em Birmingham, Alabama, e estudou música no Los Angeles City College. Recebeu formação em voz e começou a aparecer em palco como profi ssional quando era ainda adolescente. Como membro do grupo Finian’s Rainbow, chegou a São Francisco na altura do renascimento folk. Tendo começado no início dos anos 1950, a voz impressionante de Odetta podia ser ouvida em nightclubs e discotecas, dando um sentido especial às letras das canções. Foi através delas, disse a cantora, que se familiarizou e apaixonou pela luta dos pobres e oprimidos, e pela luta dos negros pelos direitos civis.
Os estudiosos dizem que o seu período áureo foram os anos ‘60, em que lançou 15 álbuns, segundo a biografi a do seu site. Entre eles estavam ‘Odetta at Carnegie Hall’, ‘Christmas Spirituals’, ‘Odetta and The Blues’, ‘It’s a Mighty World’ e ‘Odetta Sings Dylan’.
Com alguma relutância, Odetta abdicou do seu apelido, Felious, por sugestão do director de um clube que o achava demasiado difícil de pronunciar. Representou no cinema e na televisão e recebeu distinções como a National Medal of the Arts, das mãos do Presidente Bill Clinton.
Foi casada três vezes e dois dos seus casamentos acabaram em divórcio.