Na véspera da estreia da fase de grupos da Taça da Confederação Africana de Futebol (CAF), o treinador dos campeões nacionais conversou longamente com o @Verdade, esclareceu que não pretende contratar mais jogadores, “tenho um plantel de 25 (jogadores) e o Real Madrid tem um plantel de 23 jogadores e fazem 50 jogos, mas são equilibrados, eu tento criar um plantel neste momento o mais equilibrado possível”, e que o reforço de que precisa na União Desportiva do Songo é um director desportivo. Chiquinho Conde revelou ainda que o objectivo da época “é revalidar o título e ir para final da taça de Moçambique, agora a taça CAF foi um acréscimo que nós não perspectivávamos”.
Após conseguir o apuramento inédito para a fase de grupos da Taça CAF a União Desportiva do Songo averbou duas derrotas consecutivas no Moçambola, numa delas sofreu uma goleada histórica no Chibuto, e ficou a impressão que tal como o Ferroviário da Beira os “hidroeléctricos” não terão estofo para disputar todas frentes, :“Eu tenho um plantel de 25 (jogadores) e o Real Madrid tem um plantel de 23 jogadores e fazem 50 jogos, mas são equilibrados, eu tento criar um plantel neste momento o mais equilibrado possível de modo a que se eu altere uma das peças o rendimento não oscile.
“Neste momento não preciso de mais jogadores, talvez precise de ir buscar um ou dois por causa das lesões, há uns que estão a evoluir e outros nem tanto, agora resta saber se eventuais novos jogadores têm disponibilidade para entrarem numa colectividade já em andamento onde não aparecem como regulares, também os jogadores disponíveis no mercado são excedentários noutras equipas” começou por explicar ao @Verdade o treinador dos campeões nacionais em futebol.
Francisco Queriol Conde Júnior, mais conhecido por Chiquinho Conde, afirmou ter consciência daquilo “que passou-se com o Ferroviário da Beira na época passada, a gestão do plantel é fundamental. Eu não posso pôr o mesmo jogador que joga a quarta-feira a jogar no fim-de-semana. É desajustado, ainda por cima com a mentalidade do nosso futebol, mais as viagens, o descanso e a vida que ele leva”.
“Jogador moçambicano não tem capacidade de jogar na quarta e ao domingo”
O antigo capitão dos “Mambas” aclarou que para períodos de muita competição como os que a equipa foi submetida na semana passada – jogando no domingo contra o Costa do Sol, na quarta-feira contra Clube do Chibuto e depois no domingo contra o Ferroviário de Maputo – “em termos de recuperação a sauna e a massagem é o melhor que se pode fazer neste porque diminui o ácido láctico que se acumula nos músculos e que cria fadiga”, até porque não há muito tempo para treinar estando longe do Songo.
“Tenho que fazer a gestão porque o jogador moçambicano não tem capacidade de jogar na quarta e ao domingo. É mais um problema mental do que físico, porque quem trabalha todos os dias como nós o aspecto físico não é o mais importante, é mais mental, agora esse aspecto mental é que eu tenho que o trabalhar sempre, constantemente” explanou Conde que disse ainda ser importante ter “atenção ao treino invisível, onde é que eles estão agora (na manhã seguinte ao jogo), vão ter com o primo o amigo, bebem uma cerveja, o meu lema é máxima liberdade máxima responsabilidade, não adianta tu estares a tentar controlar muito. No Maputo é mais difícil mas eu tenho a particularidade de estar no Songo onde é um sítio pequeno, eles vivem num lar, há um controle maior”.
“Eu quero que eles joguem futebol e não estejam naqueles 90 minutos a aguentarem o jogo”
No entanto antes da goleada sofrida no Chibuto os “hidroeléctricos” vinham de uma série vitoriosa no Moçambola e nas competições africanas, jogando com muita posse de bola e marcando inclusivamente mais golos do que é normal para equipas moçambicanas.
“Nós treinamos muito a posse de bola. Eu sou muito pró Mourinho mas de há alguns anos à esta parte nota-se mais o futebol do Guardiola, o controle do jogo tem muito a ver com a posse de bola, muitos treinadores treinam muito a qualidade de posse de bola, não adianta jogares a bola de qualquer maneira sem que ela seja posicionada de bem. Eu peço sempre aos meus jogadores para que não chutem de qualquer maneira, joga no pé. É mais fácil jogar no pé e depois desmarcar para termos controle, depois são as desmarcações de ruptura que nós treinamos também”, declarou Chiquinho Conde.
O treinador dos campeões nacionais declarou que tenta inovar, “acima de tudo aquilo que eu quero é que os meus jogadores tenham prazer de jogar futebol. Eu quero que eles joguem futebol e não estejam naqueles 90 minutos a aguentarem o jogo. Agora nem todos tem essa capacidade, os campos não são bons, jogamos por vezes em campos era irregulares, em função das condicionantes altera-se um pouco, isso chama-se modelo de jogo e esse modelo nós trabalhamos desde o primeiro dia que eu chego na pré-época, normalmente tenho sempre 2 modelos”.
Sobre os muitos golos que a sua equipa marcou, 3 deles contra o poderoso TP Mazembe na 2ª eliminatória da “champions”, Conde explicou ao @Verdade “(…) primeiro tem a ver com o talento do próprio jogador depois em função da equipa, nós temos extremos muito rápidos então em função disso criam situações de cruzamento para finalização, o Hélder (Pelembe) é mais um finalizador. Temos que melhorar mais ainda a qualidade do passe, tem a ver mais com timing para soltarem a bola”.
Reforço que precisa a União Desportiva do Songo é um director desportivo
Com a equipa a competir no campeonato nacional, na taça de Moçambique e na Taça CAF o @Verdade quis saber se a União Desportiva do Songo pretende vencer todas. Sem hesitar o jovem treinador afirmou que “(…) o objectivo fundamental é revalidar o título, ir para final da taça de Moçambique, agora a taça CAF foi um acréscimo que nós não perspectivávamos”.
“Inicialmente até sabíamos que na 2ª eliminatória (de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões) íamos apanhar o TP Mazembe e pela grandeza sabíamos que era quase impossível passar. Mas depois fomos bafejados com a possibilidade de irmos para outra competição, esta repescagem para a Taça CAF não existia no início, pelo menos não tínhamos essa informação”, revelou ao @Verdade.
Relativamente a preparação enfrentar o El Masry do Egipto, o RS Berkane do Marrocos e o El Hilal do Sudão no grupo B da Taça da Confederação Africana de futebol Chiquinho disse ao @Verdade, duas semanas antes, que “(…) era suposto que tivesse alguém já a ver os nossos adversários, infelizmente nós ainda não estamos tão profissionais. Eu minimizo a situação tentando obter alguma informação nos sítios da internet desses clubes, falei com a Federação aqui para contactar a Federação egípcia e faculte-nos material de jogos recentes, é a única forma”.
“Neste nível exige-se que um adjunto viajasse para ver cada um dos nossos adversários mas se eu não insistir nisso com a direcção também fazem, nós infelizmente temos lacunas, devíamos ter um director desportivo mas falta essa figura na estrutura”, lamentou o treinador da União Desportiva do Songo que contou ao @Verdade as dificuldades que teve de enfrentar para juntar à sua equipa um operador de câmara, “(…) para eles (a direcção) ter um audiovisual numa equipa de futebol é despesa, é um absurdo”.
Na óptica de Chiquinho Conde o amadorismo da sua direcção chega ao ponto de fazer acordos e pagar a equipa adversária para tratar da sua logística, “(…) na eliminatória no Sudão chegamos lá meteram-nos no hotel, levávamos uma equipa da TVM não deixaram filmar, se ninguém filma o árbitro fica à vontade para apitar como quiser, depois abriram as portas do estádio, ninguém pagou bilhetes e o estádio encheu, o comissário do jogo era do Ruanda e os árbitros da Tunísia, tudo ali da Região, sorte nós termos marcado o golo antes senão estaríamos eliminados”.
Por isso Chiquinho Conde não tem dúvidas sobre o reforço que precisa na União Desportiva do Songo: “A minha grande preocupação no momento é um director desportivo, porque estar a falar com o presidente é um desgaste muito grande, pese embora possa ter um relacionamento bom essa ligação tem que ser feita pelo director desportivo”.
“O povo da Beira apoia-nos incondicionalmente”
Sem pretender justificar eventuais maus resultados nesta fase de grupos da Taça CAF o treinador da União Desportiva do Songo arrolou várias acções que já deviriam ter acontecido para preparar as partidas. “Há esta altura (2 semanas antes) já devia ter ido uma equipa de avanço avaliar as condições, para mim é muito constrangedor. A deslocação deveria ser em voo chater, como fomos para as Comores, porque senão vamos hipotecar muita coisa, as ligações em Adis Abeba são horríveis, com alimentação que não estamos habituados”.
Nas partidas como anfitriões, e porque o campo no Songo não está aprovado pela CAF, os “hidroeléctricos” adoptaram o campo do Ferroviário da Beira como a sua casa para as partidas das afrotaças e tem sido o seu talismã. “É incrível. Eu sou natural da Beira, comecei a minha formação na Beira e no campo do Ferroviário da Beira e tudo aquilo de bom que eu me lembro foi naquele campo, mas por incrível que parece eu nunca conseguia ganhar ao Ferroviário da Beira no Maxaquene, no Ferroviário de Maputo, no Vilanculos. Agora o povo da Beira apoia-nos incondicionalmente”.
“Eu acho que os beirenses tem uma paixão muito grande, não só pelo futebol, mas pelo desporto. A Beira sempre teve grandes talentos nas várias modalidades e mesmo culturalmente, o povo da Beira vive com fervor as emoções do jogo e também padece de muitas competições internacionais. A experiência que tivemos no primeiro ano de jogarmos no estádio nacional (do Zimpeto) onde não tivemos a mesma receptividade do público, acho que foi uma decisão certa da direcção”, reconheceu Chiquinho Conde.
Mas apesar do título nacional e da pujança dada pelo patrono, a Hidroeléctrica de Cahora Bassa, a União Desportiva do Songo continua a seu um clube da vila e quase sem adeptos. O @Verdade perguntou a Chiquinho – que já teve a pressão dos fãns do Desportivo de Maputo, do Maxaquene e do Ferroviário de Maputo – o que está a ser feito para o clube tornar-se num dos “grandes” de Moçambique?
“Essa também tem sido a nossa luta, tentar catapultar os adeptos porque o Songo é uma vila pequena e obviamente não vai albergar muita gente, mas tentar puxar o público de Tete para nos apoiar. Há sempre essa rivalidade com o Chingale, mas estamos a tentar puxar os adeptos com mershandising. O Songo tem 36 anos mas está a ganhar expressão agora, desde que ganhou a taça com o Artur Semedo e depois ganhamos o campeonato. É claro que isto de criar ondas de vitórias não é uma situação fácil”, tentou aclarar.
“União Desportiva do Songo num curto espaço de tempo tem que ter mais jogadores oriundos de Tete para ter a identidade e a mística”
Por outro lado para o treinador que só tem contrato até ao fim da época recorda-se que quando chegou na época passada desenhou: “um projecto de formação onde o modelo do treinador principal tinha que ser transversal, os conteúdos do treino tinham que ser elaborados por mim, na estrutura o coordenador de formação tinha que ter conhecimento daquilo que são as minhas filosofias de jogo mas infelizmente a questão cultural e por ser da província tentaram puxar um treinador antigo para ajuda-lo, então começou a haver choques e eu afastei-me para não dispersar dos objectivos fundamentais”.
“Mas eu digo sempre a direcção que a União Desportiva do Songo num curto espaço de tempo tem que ter mais jogadores oriundos de Tete para ter a identidade e a mística do clube e deixar de comprar jogadores, neste momento não tem nenhum jogador da província e isso é um absurdo. Temos juvenis e juniores mas que têm pouca competitividade, não jogam contra ninguém porque os clubes da região não existem, fazem 4 ou 5 jogos por ano, é horrível, tem que se mudar”, contatou Conde.
O antigo capitão dos “Mambas” e internacional moçambicano acredita que “(…) o Songo tem uma potencialidade muito grande para criar condições excepcionais para formação, existem muitas crianças, há espaços bons para a prática do futebol, já falei nisso mas não decido, até porque só tenho 1 ano de contrato. Se tivesse 3 ou 4 anos de contrato aí eu fazia trabalho mesmo à sério, porque todos os anos deveriam subir quatro ou cinco para alimentar a equipa sénior, estar sempre a comprar jogadores não é a política correcta”.