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Obituário: Guillaume Depardieu (1971 – 2008)

Obituário: Guillaume Depardieu (1971 – 2008)

Diz-se que o discípulo acaba, muitas vezes, por superar o mestre. Porém, no caso de Guillaume, o filho mais velho do famoso actor francês Gérard Depardieu e da actriz Elisabeth Guignot, a realidade foi bem diversa. Nascido em 1971, em Paris, o jovem Depardieu cresceu na sombra dos progenitores, e a vocação, sempre obstinada, não fez senão piorar o panorama. Guillaume desejava ser actor e a sua luz foi inevitavelmente eclipsada pelo êxito do seu pai, sem dúvida uma dos actores franceses mais famosos das últimas décadas.

O prestígio e os elogios que Gérard recebia privaram o filho de encontrar a sua própria identidade. “O meu pai foi sempre o meu ídolo”, reconhecia Guillaume numa entrevista em 2003. “O meu sonho era chegar a um patamar como o dele, ainda que fosse impossível.” Gérard, que aos 13 anos fugiu de casa para ir viver com duas prostitutas, carecia de uma referência paterna no momento de lidar com o seu próprio filho. Também as solicitações constantes afastaram-no muito de casa. Por outro lado, Elisabeth, proveniente de uma refinada família parisiense, admitia que havia sido educada para não mostrar os sentimentos.

 

Com esta vivência, não é de estranhar que Guillaume tentasse chamar a atenção dos pais das formas mais impróprias. Nem a sua emergente carreira como actor, que por vezes ameaçava conquistar o estrelato, logrou moderar o seu forte temperamento e as suas raivas constantes. Um exemplo disso é a sua passagem pelo Festival de Cinema de Ginjón de 1999, onde ganhou o galardão de melhor intérprete, prémio que não chegou a levar para casa porque entretanto foi expulso do certame, após ter destruído o quarto onde estava hospedado e de ter tentado agredir o director da mostra. Guillaume foi um jovem rebelde, decidido a viver a toda a velocidade. Contudo, desde o nascimento da sua filha Louise, havia refreado os seus impulsos, mas o seu extenso passado de confrontos ensombravam-lhe a carreira. Episódios relacionados com drogas, álcool e violência truncaram uma breve existência que teve o seu fim no passado dia 13 num hospital de Paris, vítima de uma pneumonia fulminante. A outrora tormentosa relação entre pai e filho era, nos últimos tempos, harmoniosa. Um e outro lamentavam a rebeldia de cada um. Os erros que ambos cometeram e os danos que infligiram um ao outro estavam perdoados. Em 2003, amputaram a perna direita a Guillaume. Era o melhor remédio para pôr fim aos longos anos de sofrimento que remontavam a Outubro de 1995, quando o jovem sofreu um acidente de moto. As feridas provocaram-lhe uma infecção que o obrigou a 17 intervenções cirúrgicas. Um pouco antes da amputação estreou o filme “Aime ton père” (Ama o teu pai, tradução livre), na qual participavam ambos os actores, recreando no ecrã a metáfora das suas próprias desavenças. Foi uma das últimas realizações na trágica vida deste actor que tinha permanentemente os nervos à flor da pele.

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