Os governantes da América reunidos em um encontro de cúpula continental em Trinidad e Tobago demonstraram o desejo de abrir um novo capítulo em suas relações, começando pelo presidente Barack Obama, que pediu um olhar para o futuro e que os Estados Unidos não sejam culpados por todos os males da região.
No primeiro encontro frente a frente com os presidentes latino-americanos e caribenhos, Obama afirmou estar disposto a iniciar um amplo diálogo com Cuba e uma relação de “igual para igual” com os colegas do Sul. Na manhã deste sábado, Obama reunirá com os dirigentes da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
O discurso, conciliador, firme e com algumas pitadas de humor, desarmou até os mais ferrenhos detratores. “O presidente Obama disse coisas interessantes. Tomei nota. Ver para crer”, afirmou o presidente venezuelano Hugo Chávez, que chegou para a reunião com o discurso de que rejeitaria a declaração final de Trinidad por considerar inaceitável a exclusão da questão cubana.
Obama e Chávez, um severo crítico da política de Washington, protagonizaram a cena de maior destaque do encontro na sexta-feira, quando apertaram as mãos na abertura da Cúpula das Américas em Port of Spain. “Apertamos as mãos como cavalheiros e isto era previsível”, revelou Chávez. Obama citou os principais problemas da região como o narcotráfico, a pobreza e a energia limpa e renovável.
Também mencionou a atual crise econômica, que não está na agenda oficial da cúpula, mas é uma das grandes preocupações dos participantes. Ele garantiu que trabalhará para garantir mais recursos para instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Antes da questão cubana ofuscar as discussões, Obama quis deixar claro que seu governo está disposto a um novo começo, a um progressivo degelo nas relações com a ilha comunista, submetida a um embargo americano e excluída da Organização dos Estados Americanos (OEA) desde 1962. “Nos últimos dois anos, tenho dito e repito hoje que estou preparado para que minha administração se comprometa com o governo cubano em uma ampla lista de temas, desde direitos humanos, liberdade de expressão e reforma democrática até drogas, migração e assuntos econômicos”, destacou Obama no seu discurso na Cúpula de Port of Spain.
“Mas serei claro: não estou interessado em falar por falar, mas acredito que podemos conduzir as relações entre Cuba e Estados Unidos a uma nova direção”. Ao mesmo tempo, afirmou que os Estados Unidos não podem ser culpados por todos os problemas que ocorrem na América Latina. “A América não deve interferir em outros países, mas isto também significa que não pode ser culpada por cada problema que ocorre no hemisfério. Somos parte das mudanças que devem ocorrer”.
Segundo Obama, “os Estados Unidos já mudaram”. “Não foi sempre uma mudança fácil, mas ocorreu. Então considero importante lembrar aos líderes aqui presentes que não são apenas os Estados Unidos que devem mudar. Todos têm a responsabilidade de olhar para o futuro”. “Não vim aqui para debater o passado, vim falar do futuro. Devemos aprender com a história, mas não podemos ficar presos nela”.
A declaração final da reunião de cúpula ainda está sendo debatida nos bastidores. O desafio é evitar um veto de um grupo de países, uma situação inédita na história destes encontros, o que faria do encontro um continental um fracasso.