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O salineiro que resiste à crise

O salineiro que resiste à crise

No meio de uma crise que assola o sector salineiro, motivando cada vez mais o abandono da actividade no distrito de Mossuril, província de Nampula, um cidadão resiste às adversidades e ganha algum dinheiro para sustentar a sua família.

@Verdade deslocou-se ao distrito de Mossuril com a finalidade de contar a história de sucesso desse salineiro. “A vida de um salineiro não é fácil, pois trabalhamos mais de oito horas”, explicou Patrício Belmonte, de 50 anos de idade, um importante produtor de sal, camionista, vendedor de mandioca seca e ex-promotor de eventos culturais.

 

 

“Na verdade, eu sou um caso de sucesso, graças a muito esforço e também ao excesso de horas de trabalho. Passo a maior parte do tempo a produzir este ingrediente indispensável para a cozinha”, acrescentou.

Nesta altura do ano em que está prestes a terminar o período de produção de sal devido à falta de equipamentos para produzir na época chuvosa, Belmonte trabalha mais de 20 horas por dia.

“Chego a deitar-me de madrugada e levantar-me às 4h00 da manhã”, conta. Proprietário de 28 hectares de mangal, ele utiliza apenas 10 para produzir sal e as outras áreas não estão a ser exploradas devido à falta de condições financeiras para ampliar a actividade.

No ano passado, Belmonte produziu 350 toneladas. Ao longo dos 35 anos que trabalha por conta própria, o salineiro comentou que já passou por diversas situações que quase o fizeram desistir. Começou o seu negócio com um investimento de 70 mil meticais que lhe permitiu comprar o local e tratar de alguns documentos para a legalização da actividade.

“Comecei com o dinheiro que obtive da venda da minha embarcação e todo o material de pesca visto que nos tempos da juventude dediquei-me à pesca artesanal e feitas as contas e pelos riscos que a actividade pesqueira tem, optei por abandonar e iniciar uma nova vida”, afirmou.

Volvidos 10 anos de trabalho de produção de sal, Patrício Belmonte decidiu recorrer ao crédito do Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD), que lhe permitiu recuperar um motor velho que usa na sua salina, admitindo que “um dos grandes problemas é o investimento bancário para a aquisição de tractor e máquinas específicas para transformar a actividade artesanal em industrial, uma vez que tenho uma motobomba adaptada através do motor velho de um tractor”.

Belmonte diz que caso consiga um financiamento bancário avaliado em cerca de um milhão de meticais poderá transformar a actividade num negócio mais rentável. Apesar disso, ele mostra-se satisfeito com o trabalho nas suas salinas.

“É algo de que sempre gostei. Comecei a trabalhar já faz muito tempo e sempre quis ter uma vida melhor por isso dedico-me bastante a esta actividade que exige de mim muito sacrifício”, disse e acrescentou que concluiu a sexta classe e, mais tarde, abandonou a escola e foi ganhar a vida no campo e no mar para sustentar a sua família.

Segundo Belmonte, a crise no sector salineiro pode ser combatida com duas medidas que considera essenciais, nomeadamente baixo custo e uniformização de preço dos factores de produção, como por exemplo, o combustível, além da mudança de mentalidade por parte do Governo no respeito às mudanças climáticas. “Há um sacrifício diário. Não são contabilizadas as horas que andamos à volta da exploração”, afirmou.

Com cerca de 28 hectares de mangal que somente são explorados 10, divididos em várias parcelas, emprega 10 a 22 trabalhadores sazonais e três efectivos, que aumentam durante as campanhas. Para Belmonte, este ano devido às mudanças climáticas conseguiu produzir apenas 100 toneladas de sal o que lhe leva a acreditar que no último mês do presente ano e princípios do próximo, caso não haja vigilância, pode-se entrar num colapso a nível da província.

A outra preocupação daquele salineiro tem a ver com a falta da corrente eléctrica que seria fundamental para o desenvolvimento da sua actividade. Mas para se chegar à fase de montar energia naquelas salinas é importante que primeiro consiga um financiamento que possa garantir o desenvolvimento da sua actividade. Patrício Belmonte tem o sonho de se tornar o maior produtor de sal a nível do país, visto que tem espaço para isso, mas o que lhe falta são as condições financeiras para concretizar a sua ideia.

Quem é Belmonte?

Patrício Belmonte nascido no distrito de Mussuril disse que durante a sua infância abandonou a escola e apostou na promoção das danças Tufo e N’sope com intuito de ganhar dinheiro e passados cinco anos na tal actividade, abraçou a pesca com o dinheiro que conseguiu com aquelas actividades e tantas outras que realizava com destaque para o negócio de compra e venda de barcos e outros materiais de pesca.

Trabalhou como pescador durante 10 anos e depois passou para produtor de sal, facto que veio a acontecer há 15 anos (1997). “O meu actual negócio deve-se ao Tufo e N’sope”, disse.

Com um total de sete filhos, Patrício Belmonte afirmou que apesar de tudo orgulha-se das coisas que conquistou. Graças ao seu trabalho, dois dos seus filhos são funcionários públicos e os outros ainda estão a estudar. “Gostaria de ter um filho doutor”, disse.

Pequeno rei do gado

Aquele salineiro que também é presidente da Associação dos Salineiros dos distritos de Mussuril, Ilha de Moçambique e Nacala-Porto, tem igualmente o gosto pela criação de animais. Nas imediações da sua salina possui um curral com uma dezena de bois. O seu objectivo é possuir mais de mil cabeças.

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