O Parlamento egípcio voltou às funções, esta Segunda-feira, pela primeira vez desde que umas históricas eleições livres levaram os islâmicos ao centro do poder, depois de anos de repressão sob o governo do presidente deposto Hosni Mubarak.
O Partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana, foi o maior vencedor do primeiro pleito livre em décadas, e prometeu guiar o Egito na transição ao controle civil depois de os generais assumirem o comando na esteira das manifestações populares que começaram a 25 de Janeiro e derrubaram Mubarak a 11 de Fevereiro de 2011.
“Convido a distinta assembleia a erguer-se e ler a fatiha (oração muçulmana) em memória dos mártires da revolução de 25 de Janeiro… porque o sangue dos mártires é o que propiciou este dia”, disse Mahmoud al-Saqa, de 81 anos, membro do partido liberal Wafd, que como representante mais antigo da casa actuou como presidente .
Depois de realizar uma oração silenciosa, cada membro leu o juramento de posse. Alguns exibiam faixas amarelas em protesto contra o julgamento militar de civis. Um membro islâmico, Mamdouh Ismail, leu o juramento que promete lealdade à nação e às suas leis, mas acrescentou que “contanto que não se oponham às leis de Deus”.
A ascensão dos islâmicos marca uma grande mudança em relação à era Mubarak, quando o Parlamento era um organismo complacente repleto de membros do seu Partido Democrático Nacional, que colocava a lealdade e o próprio interesse acima da religião ou ideologia.
A Irmandade Muçulmana era oficialmente proibida, mas tinha alguns assentos com candidatos “independentes”. Os generais que substituíram Mubarak permanecerão no comando até as eleições presidenciais de Junho, quando prometeram ceder o poder, embora muitos egípcios suspeitem que o Exército possa tentar manter a influência nos bastidores mesmo depois disso.
“Hoje retomamos a revolução. Perdemos um ano. Temos trabalho a fazer”, disse Kamal Abu Etta, proeminente activista do sindicato dos trabalhadores e membro do partido laico Karama, ao adentrar o edifício cercado de policiais.
Uma das primeiras medidas da câmara baixa na sessão desta Segunda-feira será eleger um presidente, que deve ser Mohamed Saad el-Katatni, indicado do Partido Liberdade e Justiça.
As eleições à câmara alta do parlamento serão realizadas em Fevereiro. Embora os islâmicos dominem, não está claro se formarão um bloco único no parlamento, que terá importância capital na redacção da nova Constituição, escolhendo a assembleia de 100 membros que formulará o documento.
A Irmandade disse querer ser inclusiva e garantir que todas as vozes do Egito sejam ouvidas. “Iremos cooperar com todos: com as forças políticas dentro e fora do parlamento, com o governo interino e com o conselho militar até alcançarmos a segurança concedida pelas eleições presidenciais”, disse Essam el-Erian, vice-líder do Partido Liberdade e Justiça.