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O motor de Moçambique “funciona a cocaína”

Três meses após os EUA acusarem um grande empresário moçambicano ligado ao Governo de ser narcotraficante, o assunto tornou-se tabu e só o músico Azagaia insiste em dizer que o motor do país “funciona a cocaína”. O escândalo remonta a 1 de Junho, mas ainda na semana passada o Procurador- Geral da República, Augusto Paulino, esquivou- se a dizer como está o inquérito que disse ter sido instaurado. A LUSA tentou também ouvir o advogado do empresário acusado, mas sem sucesso O empresário também “desapareceu”.

Há três meses, Washington colocou Momade Bachir Suleman na sua lista de “barões da droga” e ordenou o congelamento de eventuais bens em território dos EUA, proibindo-o também de negócios com cidadãos norte-americanos.

O empresário negou, a Procuradoria instaurou um inquérito. Em Moçambique são conhecidas as boas relações entre o empresário, o Governo e o partido no poder. Bachir tem contribuído para as campanhas da FRELIMO e chegou a oferecer motorizadas e telemóveis para a Polícia.

Tudo isso é cantado pelo rapper moçambicano Azagaia na música “Arrriii”, que lançou um mês depois do escândalo. Em entrevista à LUSA, explica que demorou um mês porque estava à espera do desfecho do caso e que agora está convencido de que nada vai acontecer.

“Temos um período em que as coisas estão meio instáveis, há ansiedade para saber o que vai acontecer, se o visado será punido, julgado. E depois não acontece nada”, diz Azagaia.

Em “Arrriii” o músico diz que o motor do país funciona a cocaína e pergunta o que aceita a Polícia além de motorizadas.

“Quando temos casos destes o Governo quase não faz nada, o povo também acaba não fazendo nada e o escândalo dá em nada”, diz o jovem músico, acrescentando: “Não me quis precipitar em fazer qualquer julgamento, queria ver até que ponto as coisas iam andar, mas eu sentia que nunca mais acontecia nada e seria mais um caso igual a tantos outros, que acabam arquivados.”

“Arrriii” é, portanto, uma música de “revolta em relação aos casos que não dão em nada”. Mas Azagaia acha que o “caso Bachir” é apenas a ponta do iceberg, decorrente da “guerra fria” entre os Estados Unidos e a China, de “uma luta para controlar os países africanos”.

“A política de Moçambique está a virar-se muito para a China, a segunda economia, e os EUA não querem perder espaço. E isso reflecte-se nesses casos, de difícil resolução, que causam essa instabilidade interna”, diz Azagaia.

Mas adianta: “Se nunca tivéssemos sido coniventes com personagens que fazem negócios ilegais, isso nunca seria motivo de instabilidade. Mas está a ser porque o visado tem negócios com o partido no poder, é um dos maiores patrocinadores”.

Ainda que banida dos principais órgãos de comunicação social, a música de Azagaia acabou conhecida em Maputo. O rapper promete mais críticas no próximo álbum e não hesita em falar de Moçambique como um “Estado corrupto”.

“O combate à pobreza encobre toda e qualquer maneira de enriquecimento. Vamos deixar (o empresário) que é dinheiro para o país, é um grande contribuinte. Mas ao mesmo tempo a gente quer combater a corrupção. E as pessoas sentem-se injustiçadas porque têm de observar a lei e vêem outras a enriquecer não observando a lei”.

O resultado, diz Azagaia, é que se “os grandes” são corruptos, “os pequenos também começam a meter- se” e “fica um Estado corrupto”. Azagaia não tem dúvidas: em Moçambique “a corrupção começa já a ser cultura”.

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