Na cidade de Pemba, durante o X Congresso, ficou claro que no futebol da política interna da Frelimo, Armando Emílio Guebuza não é apenas jogador e árbitro ao mesmo tempo. Também pode decidir quem joga na sua equipa. Com a sua reeleição e a do secretário-geral do partido num processo em que Guebuza e Filipe Paúnde, respectivamente, foram os únicos candidatos, já está construída a teia de interesses pessoais para os próximos cinco anos que será legitimada pelos milhares de eleitores moçambicanos no pleito eleitoral que se avizinha.
Os próximos passos do partido no poder são previsíveis, uma vez que o X Congresso da Frelimo realizado nos dias 23 a 28 de Setembro em Pemba, na província de Cabo Delgado, parece ter encerrado o debate sobre o futuro daquela força política e, em tabela, do país.
Com a reeleição de Armando Guebuza por 98,76 porcento dos delegados e com 23 votos em branco e a de Filipe Paúnde (reeleito por 94.5 porcento dos membros do Comité Central e 10 votos em branco) para o cargo de secretário-geral, a conclusão é (quase) cristalina: o próximo candidato dos “camaradas” para as eleições presidenciais de 2014, caso seja eleito Presidente de Moçambique, andará a reboque do presidente da Frelimo.
Embora o secretário para a Mobilização e Propaganda da Frelimo, Edson Macuácua, tenha negado, afirmando que é falsa a propalada ideia de que é por via do artigo 75 que se pretende mudar o regime de direcção do partido ou instituir dois centros de poder ou garantir que o presidente da Frelimo controle o Presidente da República, não há dúvidas de que directa ou indirectamente Guebuza vai definir os caminhos que o futuro chefe do Estado (caso seja da Frelimo) deve trilhar.
No antigo estatuto do partido, lia-se no referido artigo: “Os eleitos e os executivos coordenam a sua acção com os órgãos do partido do respectivo escalão e são perante estes pessoal e colectivamente responsáveis”.
Na já aprovada proposta de revisão, apresentada no segundo dia do X Congresso, mantém-se a redacção e acrescenta-se o seguinte: “os responsáveis pelo exercício de funções nos órgãos do Estado e autárquicos”. Ou dito em português corrente, de diferentes formas a Frelimo, ao seu alto nível, vai interferir na gestão das instituições do país, ou seja, o Presidente da República, ministros e os edis não poderão trabalhar à margem do partido cujo chefe máximo é Armando Guebuza.
Diante da reeleição de Armando Guebuza para presidente da Frelimo, ficou claro no tocante a quem iria assumir o cargo de secretário-geral. Embora alguns “camaradas” o considerem uma pessoa “temperamental demais”, Filipe Paúnde continuará a ser a segunda figura mais importante do partido por mais cinco anos.
Diga-se, em abono da verdade, à semelhança da eleição de Guebuza, tudo foi feito em nome de uma “continuidade” que ninguém sabe o que significa. Na verdade, os “camaradas” cumpriram, como de costume, a disciplina partidária, produto de uma mistura de subserviência política com a ausência de opinião própria, pomposamente amparada pela maioria dos membros do partido.
Uma Comissão Política à medida de Guebuza
Os membros que compõem a nova Comissão Política são figuras que gozam de certa confiança do presidente da Frelimo. Nas listas (homem e mulher) de continuidade foram eleitos Alberto Chipande, Eduardo Mulémbwè, Eneias Comiche, Raimundo Pachinuapa, Verónica Macamo, Margarida Talapa, Conceita Sortane e Alcinda Abreu.
No que respeita à renovação, Alberto Vaquina (governador de Tete), Sérgio Pantie, (secretário para a área de organização e quadros do partido), Cadmiel Muthemba (ministro das Obras Públicas e Habitação), Carvalho Muária (governador de Sofala), Esperança Bias (ministra dos recursos minerais), e Lucília Hama (governadora da cidade de Maputo) são os escolhidos. Esta é a equipa de Guebuza que vai definir o rumo do país nos próximos anos.
Luísa Diogo, Edson Macuácua, Aiuba Cuereneia e Hermenegildo Infante não conseguiram votos suficientes para ocupar um dos assentos da Comissão Política. Embora tenha ficado de fora, Aires Ali tem direito a assento, ao abrigo dos estatutos, segundo os quais o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República e o Primeiro-Ministro, quando membros do Frelimo, têm assento na Comissão Política, sem direito a voto.
Comité Central
Fazem parte do Comité Central 180 membros e 18 suplentes. O nome de Valentina Guebuza na lista dos combatentes como candidata a membro do Comité Central criou debates nos corredores do Complexo do Congresso.
A discussão cresceu e transformou-se numa opção “unânime”, até porque, segundo os Estatutos da Associação de Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN), “o filho de antigo combatente, combatente é”. A gestora de parte do império económico do seu progenitor levou a melhor vencendo com 1360 votos a seu favor, numa lista onde quatro mulheres disputavam dois assentos.
O empresário Celso Correia também foi eleito. Correia concorria na lista das Áreas Económicas e Sociais, tendo vencido Paulo Muxanga, actual PCA do HCB. Para a mesma área entram para o Comité Central Teodato Hunguana (PCA da Mcel e TDM), Rosário Mualeia (PCA dos CFM), e José Psico (PCA do Instituto Nacional do Turismo). Quem também entrou para o Comité Central é Alberto Nkutumula, vice-ministro da Justiça e porta-voz do Governo, na lista de Jovens.
Ficaram de fora Teodoro Waty (PCA das LAM), Isaú Meneses, António Hama Thai, Jorge Rebelo, Jacinto Veloso, Ivo Garrido, António Sumbana, Roberto Chitsondzo, António Fernando, Marcelino Pita, Jaime Neto, Sérgio Eduardo Chone, Edmundo Galiza Matos Júnior, Alcido Nguenha, Alfredo Gamito, Lázaro Mathe, Ildefonso Muanathatha, Virgílio Mateus, e Jaime Himedi.