As eleições irlandesas mostraram três bons exemplos. Primeiro, uma democracia que bateu no fundo foi capaz de fazer escolhas num quadro institucional e sem recurso a tumultos de rua. O veredicto foi sereno: punir quem criou raízes no Governo (Fianna Fáil) e no qual pesou a falência económica, a deserção de jovens qualificados e a capitulação internacional.
O segundo diz-nos que quem carrega o fardo da catástrofe (Brian Cowen) pode aspirar a alguma dignidade política, colocando o lugar à disposição e abrindo espaço à clari- ficação eleitoral. Pior do que esbracejar no lodo é gostar de lá estar agarrado. “Estabilidade” é tudo menos isto.
O terceiro mostra-nos como é imprescindível um calendário ágil, célere e desburocratizado que acompanhe um processo iniciado pela convocação de eleições, que passa pela formação governativa e termina com a posse.
Vejamos o que está em causa: o Parlamento irlandês retoma funções semana e meia após as eleições (9 Março). Dias antes, o Governo (provavelmente do Fine Gael e do Labour) sentar-se-á à mesa do PPE, liderada por Merkel (4 Março) – sem Portugal, Espanha e Grécia -, para preparar a cimeira da Zona Euro (11 Março) e o Conselho Europeu (24/ 25 Março).
Em resumo, houve responsabilização, institucionalismo e celeridade. Parece que temos algumas coisas a aprender com a Irlanda.