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O drama da gravidez indesejada

O drama da gravidez indesejada

Estefânia António, que aparenta ter 15 anos de idade, é uma adolescente que, muito cedo, abandonou a escola devido a uma gravidez indesejada. Em consequência disso, os familiares obrigaram-na a casar-se com o homem que a engravidou e, presentemente, além de mãe, a rapariga é dona de casa e vive o maior pesadelo da sua vida.

Quando frequentava a escola, Estefânia teve relações sexuais desprotegidas com um alegado colega de turma. Foi, na verdade, uma aventura cujas consequências ficaram marcadas nas suas vidas, porque resultou numa grávida indesejada. A falta de informações sobre o início de relações sexuais é a principal causa. Nas zonas rurais, bem como nas cidades, ainda não é predominante a cultura de comunicação entre os pais e os respectivos filhos no sentido de se evitar situações que possam, no futuro, prejudicar o seu desenvolvimento integral.

“Quando tive a primeira menstruação, fiquei com medo e, ao mesmo tempo, vergonha de contar aos meus pais”, disse. Era suposto que a adolescente começasse, através de conselhos, a preparar-se para eventuais relacionamentos amorosos. Mas a falta de abertura da sua parte e de atenção dos pais contribuíram negativamente para este desfecho. A escola era o único ponto de encontro dos dois.

O pior é que, segundo a adolescente, não usavam o preservativo nas suas relações sexuais. Segundo apurámos, as condições socioeconómicas dos seus progenitores da menina eram críticas. Por causa disso, ela ficava com inveja das colegas da escola que a cada dia se apresentavam de forma diferente. Estefânia viu-se obrigada a envolver-se com um rapaz para ter o que comer no intervalo.

A “cumplicidade” dos pais

Numa altura em que Estefânia precisava de incentivos no sentido de continuar com os seus estudos, embora na situação em que se encontrava, os seus progenitores não mexeram nenhuma palha visando acolher a menina. Pelo contrário, exigiram que o rapaz se apresentasse na casa dos pais e, posteriormente, assumisse a rapariga como sua esposa.

Além de serem adolescentes, ambos viram-se confrontados com desafios que ultrapassavam as suas capacidades, sobretudo, devido à falta de condições financeiras. O marido de Estefânia, cujo nome não conseguimos apurar, é filho de camponeses e não desenvolve nenhuma actividade que lhe garanta rendimentos visando sustentar a sua futura família.

Da parte dos pais, o casal jovem não recebeu qualquer apoio, foi-lhes oferecida uma porção de terra para construir a moradia e produzir comida. A nossa interlocutora afirmou que os seus pais tiveram uma grande desilusão, porque “perceberam, finalmente, que os progenitores do moço com o qual me obrigaram a casar eram pobres”, disse.

Esperança (não) é a última coisa a morrer

Estefânia não alimenta nenhuma expectativa em relação ao seu futuro profissional. Primeiro, porque acredita que o ensino constitui a condição principal para a prosperidade, e, segundo, as responsabilidades no seu lar não lhe permitem frequentar a escola.

Ela arrepende-se do facto de ter abandonado os estudos, mas o seu erro nesse sentido justifica-se sob a alegação de que não reunia condições financeiras para custear os mesmos, sobretudo, pagar as matrículas no ensino secundário e comprar material escolar. Outra dificuldade está relacionada com o facto de na comunidade de Namua, terra que a viu nascer, não existir nenhuma escola secundária, sendo que a única se encontram na vila sede do distrito de Mecubúri.

Por isso, depois de terminar a 7ª classe, Estefânia viu o seu desejo de prosseguir com os estudos frustrado. Presentemente, a nossa interlocutora vende “badjias” num mercado improvisado nas imediações da estrada que dá acesso ao posto administrativo de Muite. Os rendimentos resultantes do negócio servem para suportar algumas despesas da sua família.

Governo sem políticas

Para o governo do distrito de Mecubúri, província de Nampula, as situações relacionadas com as gravidezes indesejadas que resultam, na sua maioria, em casamentos prematuros supostamente forçadas pelos próprios pais das raparigas são bastante preocupantes na medida em que limitam o desenvolvimento integral dos adolescentes.

Hilário Anapakala, administrador distrital, disse que as autoridades não dispõem de nenhuma política visando estancar os problemas através da mudança de mentalidade no seio das famílias que não incentivam as suas filhas a que, mesmo estando grávidas, elas possam continuar a estudar.

Para mudar o rumo dos acontecimentos, as autoridades desdobram-se em actividades de sensibilização, mas os resultados que têm vindo a ser alcançados são, efectivamente, desencorajadores, pois os casos tendem a crescer.

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