Abandonada pelo pai por ser fisicamente deficiente, Elsa Magome, ou simplesmente Elsinha, vive nos braços da sua mãe desde os dois anos de idade. Ela não fala, não anda, não come sozinha e nem se pode manter de pé.
Elsa Atália Dombo e Rui Magome são os pais legítimos da menina Elsinha, que vive a dor de depender de terceiros para fazer quase tudo. Ela nasceu normal, porém, aos dois anos de idade foi acometida por paralisia, tendo contraído deficiência física.
Perante aquela triste situação, o seu pai eximiu-se da responsabilidade de acompanhar o seu desenvolvimento e decidiu abandoná-la, deixando-a com mãe.
“Antes de a nossa filha nascer, o amor parecia mais forte, mas quando ele soube que a menina não poderia andar, resolveu abandonar-nos, decretando assim a nossa separação”, conta Elsa com as lágrimas a percorrerem o seu rosto.
Elsa, de 50 anos de idade, afirma que o marido abandonou- -as quando a menina tinha dois anos de idade, e nessa altura Elsinha estava muito doente. “A minha filha não anda, não fala, não fica de pé e não come sozinha. Ela é muito dependente, eu sempre ando com ela ao colo, ainda que eu vá ao mercado”.
A pequena Elsinha, ainda que queira estudar, brincar com as amigas, saltar à corda, correr de um lado ao outro, não tem condições para o efeito porque o destino lhe arrancou essa possibilidade. “Mas ela nasceu normal, é triste o que aconteceu com a minha filha. Ela conseguia locomover-se com os seus próprios pés até aos dois anos de idade”, acrescenta.
Quando adoeceu, ela não teve a sorte de ser levada ao hospital atempadamente, só que, volvido um ano, isto é, quando a Elsinha tinha três anos de idade é que os pais se dirigiram a uma das unidades sanitárias da província de Maputo. Nessa altura, a menor tinha perdido o equilíbrio e os pés e as mãos já estavam atrofiados.
“No hospital disseram-me que ela tinha paralisia e que tal se deveu ao facto de termos levado muito tempo em casa, a doença foi-se intensificando de tal maneira que a menina acabou por desenvolver a doença”, explica.
Elsa Dombo, que procura dar todo o carinho à Elsinha, acrescenta que foram estes os problemas que fizeram com que o seu ex-marido abandonasse a família porque alegadamente não queria cuidar da menina, ou seja, quase que negou a paternidade devido às deficiências físicas que ela foi contraindo com a doença.
A nossa interlocutora disse que, devido à gravidade da situação, primeiramente dirigiu-se ao Hospital Geral da Machava (HGM), onde a menina Elsinha foi submetida a análises, mas qual não foi o seu espanto quando foi transferida para o Hospital Central de Maputo (HCM) porque no HGM não havia material laboratorial para detectar a doença.
Chegados ao HCM, Elsinha foi submetida mais uma vez a outras análises médicas, para se identificar o problema. Os médicos daquela unidade hospital, a maior do país, concluíram que ela sofria de paralisia.
Após o diagnóstico, começou a seguir os tratamentos, mas a verdade é que a saúde da menina foi-se agravando a cada dia que passava, de tal forma que ela ficou com os membros superiores e inferiores atrofiados.
A cadeira foi desviada
Entretanto, algumas pessoas ficaram sensibilizadas quando se aperceberam dos problemas que a Elsinha tinha. Segundo a mãe, durante os dias que a menor esteve no leito do Hospital Geral da Machava, um dos médicos deslocou-se à sua casa para se inteirar das condições de vida da família.
Durante a visita, ele terá dito que faria de tudo no sentido de arranjar uma cadeira de rodas para a menor. Era um presente que era ansiosamente aguardado, mas terão decorrido três anos sem que o mesmo chegasse.
De acordo com Elsa Dombo, o médico disse que assim que a cadeira de rodas fosse adquirida, teriam de se dirigir ao círculo do bairro para proceder ao seu levantamento. No princípio deste ano, o presente por que tanto a família de Elsinha esperava e que amenizaria o seu sofrimento chegou, mas desapareceu misteriosamente do círculo. As estruturas alegam que houve um engano e que a cadeira não era para ela.
“Sempre que eu me deslocava às estruturas do bairro garantiam que a minha filha iria beneficiar de uma cadeira de rodas para facilitar a sua locomoção, oferecida pelo Hospital Geral da Machava. Só que no princípio deste ano disseram-me que já haviam recebido, mas por engano deram a uma outra pessoa deficiente da mesma zona”.
Depois disso, ela foi aconselhada a aguardar pela próxima oportunidade embora sine die. “Até hoje não há nenhum sinal, apesar de ter comprovativos de que a minha filha teria uma cadeira de rodas”.
“A cada dia que passa fico com dores no peito devido ao peso dela. Levar uma criança de 10 anos de idade ao colo não é fácil. Mas não posso fazer outra coisa, é minha filha”, diz.
“Nunca foi submetida a sessões de fisioterapia”
A esperança de a menor recuperar os movimentos das pernas e das mãos ou ganhar o equilíbrio parece não passar de um desejo que vai sucumbir no imaginário. Elsinha nunca foi submetida a exercícios de fisioterapia.
Na falta da carrinha de rodas desviada supostamente por engano, Elsa, que mora no bairro da Machava-Sede, é obrigada a carregar ao colo a filha de 10 anos de idade. “O que posso fazer perante este sofrimento, como mãe, é procurar amenizar o sofrimento dela. Enquanto a cadeira de rodas não chega, vou levá-la ao colo onde quer que eu vá”.
A nossa interlocutora afirma que em condições normais se devia deslocar ao hospital de três em três meses para efeitos de controlo médico, o que não acontece porque dificilmente pode levar a sua filha nas condições em que se encontra.
Tentou uma vez mas teve imensas dificuldades no “chapa”. “Alguns operadores de transportes semicolectivos de passageiros não aceitam levar-nos. Somos discriminadas, não sei porquê. Ela não incomoda a ninguém, está no meu colo. Passamos por situações tristes“.
Viver na penúria
Elsa Dombo é desempregada e os filhos também se encontram na mesma situação. A alimentação da família é garantida por uma associação local que apoia pessoas desfavorecidas. “Diariamente vou buscar alguns produtos alimentares para dar aos meus filhos. Mas para não ser muito dependente, faço pequenos trabalhos aqui em casa. Preparo e vendo bebida tradicional”.
Depois de confeccionada a bebida, Elsa transporta-a em recipientes de cinco, 20 e 25 litros para Tenga, onde tem clientes assíduos, alguns dos quais compram para revenda. Uma parte é vendida em sua casa.
“Cada recipiente de cinco litros custa entre 70 e 80 meticais. Mas também pago quase 100 meticais à dona da casa onde deixo os bidões. Na verdade, este negócio não me rende quase nada, mas o pouco que consigo compro comida para os meus filhos”, acrescenta.
Abandonada pelo pai
Rui Magome é o pai da menina Elsinha e vive no bairro do Patrice Lumumba, no Município da Matola. Elsa Dombo refere que o seu ex-esposo não quer saber da filha, não quer custear as despesas de saúde e alimentação alegadamente porque tem filhos com outra mulher cuja assistência é prioritária.
“Sempre que eu lhe peço apoio em dinheiro ou comida para os nossos filhos ele diz que recebe um salário magro com o qual quase nada pode fazer”.
O que é Paralisia
É o estado ou situação de imobilidade, seja ela total ou parcial. A poliomielite (vulgarmente tratada por paralisia infantil) é uma doença que paralisa completamente os músculos das pernas, impedindo a pessoa de andar.
A paralisia é causada pelo mau funcionamento de algumas áreas do sistema nervoso central, que deixa de transmitir impulsos para a activação muscular. A sede do distúrbio pode estar nas células do encéfalo ou da medula, ou nos nervos que vão ao músculo.
Sintomas
São variáveis e, entre 90 e 95 porcento dos casos, a poliomielite não apresenta sintoma algum. Nos casos em que há paralisia, ocorre: instalação súbita da deficiência motora, febre, paralisia, principalmente dos membros (com maior frequência, os inferiores), flacidez muscular e diminuição ou ausência de reflexos profundos na área paralisada.
A sensibilidade do local é mantida. Na maioria dos casos, os sintomas não ultrapassam três dias, mas pode haver sequelas. Alguns dos casos, em que a paralisia é severa, são fatais.
Como evitar?
A prevenção é feita através da vacinação, que garante protecção contra a doença por toda a vida. A vacina, chamada Sabin, é aplicada oralmente. Em Moçambique, o Ministério da Saúde tem levado a cabo campanhas regulares de vacinação contra a poliomielite.