Já dizia o primeiro Presidente de Moçambique independente, Samora Machel, que “as crianças são flores que nunca murcham”. A elas deve ou pelo menos devia ser dado todo o carinho e afecto possíveis. Amélia Sitoe fá-lo há já 30 anos, um período de uma eterna relação com crianças cujos cuidados foram confiados às creches pelos pais.
Amélia Salomão Sitoe, de 53 anos de idade, 30 dos quais lidando directamente com crianças, é considerada a segunda mãe de muitos meninos da escolinha Ndjinguiritane.
Com uma careira iniciada no longí nquo ano de 1982, no Instituto Nacional da Acção Social, Amélia esteve sempre ligada à educação de petizes. Segundo afirma, muitos académicos de renome nos dias de hoje já passaram pelos seus cuidados.
A sua felicidade em lidar com as crianças deve-se ao facto de estas terem o desejo e a curiosidade de aprender coisas novas.
“Diferentemente, diga-se, dos idosos, as crianças são e estão sempre alegres e entusiasmadas, apesar de existirem algumas crianças que gostam de mexer em tudo o que vêem pela frente, mas sempre faço alguma coisa para colocá-las na linha”.
A rotina na creche
Na escolinha Ndjinguiritane, onde Amélia trabalha, o dia-a-dia é feito de bons momentos. Cuidar de crianças com comportamentos diferentes umas das outras tem sido um desafio.
“Tal como as outras faixas etárias, as crianças são diferentes entre si e o nosso trabalho é criar um equilíbrio educacional, de modo a garantir que todas elas se portem bem com os pais assim como com as educadoras e com a sociedade no geral”, diz.
Se em casa é mais fácil impor ordens de mãe para filho, o mesmo não se pode dizer em relação à escolinha, onde as regras são negociadas com os próprios petizes, o que se afigura o maior obstáculo que esta mulher enfrenta.
“Em casa, como mãe, imponho as normas de vivência para com os meus filhos, mas aqui na escolinha nós negociamos com as crianças, pois o seu comportamento tem sido em função da forma como são educadas em casa”, explica.
Os pais também devem contribuir
Amélia Sitoe acrescenta que para a edificação de uma boa postura da criança é necessário que haja uma coordenação entre os pais e/ou encarregados de educação e a escola. “Como educadora social e infantil, faço a minha parte.
Mas para o alcance do nosso objectivo, que é de ter crianças cada vez mais educadas, deve haver colaboração entre as diversas instituições de socialização (escola, família, etc.)”.
Ser “segunda mãe”
Num mundo em constante correria, os pais ficam praticamente sem tempo para cuidar dos filhos durante o dia, daí a necessidade de encontrar o lugar certo e a pessoa certa para desempenhar o seu papel e a sua responsabilidade. Amélia tem sido para muitos desses pais, a “segunda mãe” dos seus filhos.
O facto de ela e outras educadoras cuidarem dos meninos durante o dia enquanto os progenitores trabalham, permite que os pais se sintam tranquilos e com a certeza de que os seus filhos estão em boas mãos.
A nossa entrevistada afirma que na sua casa, a relação com os seus filhos tem sido saudável. “Graças a Deus, tenho filhos que me entendem e obedecem, é por isso que o meu papel transpõe o de uma simples educadora”.
Os males a combater
Educar uma pessoa passa necessariamente por torná- la livre dos preconceitos, daí a importância do ensino pré-primário.
Dentre vários males que Amélia aponta como barreira para o alcance do saber, há que destacar a timidez, o mau relacionamento com os outros e o acanhamento. São estes factores que, segundo ela, impedem o sucesso da criança. A sua missão é combatê-los.
“Eu como educadora devo fazer tudo para que a criança não seja tímida, acanhada e mal relacionada com outras crianças, ou ainda com os pais e demais pessoas. Não é de admirar que uma criança ainda em idade pré-primária queira saber dos pais como e quando é que nasceu.
Isso acontece porque ela própria já tem noção de algumas coisas, simplesmente precisa de um ‘suporte’ de uma pessoa mais velha para poder falar com substância ”, assevera.
A formação é indispensável
Para Amélia, a questão da formação para lidar com as crianças é extremamente importante. Segundo advoga, embora sejam mansos e carinhosos, os petizes têm uma psicologia muito forte e temperamentos em constante mutação. Para fazer face a isso, os formadores precisam de estudar a Psicologia da Criança.
“A falta de uma formação na área pode levar a educadora a adoptar métodos que prejudiquem a criança. A nossa função não é só cuidar das crianças, exercemos também o papel de professores e isso aprende-se na carteira.
É por isso que, geralmente, uma criança que tenha passado pela creche é mais flexível na captação e retenção dos conteúdos leccionados na escola primária se comparada com aquela que nunca teve uma oportunidade similar”, comenta.