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“Nunca participámos no Festival Nacional de Cultura!”

“Nunca participámos no Festival Nacional de Cultura!”

A única colectividade artístico-cultural que, em Inhambane, explora a dança Makwaela, tem a designação SIFERNA que é a fusão de Silva, Fernando e Narciso (os nomes dos seus membros fundadores). Nos dias que correm, além de reivindicarem a paternidade da Makwaela lamentam o facto de, apesar de serem um grupo renomado, nunca terem tido a oportunidade de participar no Festival Nacional de Cultura…

Os motivos da arte, muitas vezes, não são compreendidos. Como tal, mesmo Silva Saieze Macucule, o maestro de canto e dança dos SIFERNA, não consegue explicar as razões que os moviam a que, naquele contexto de conflito armado (dos anos de 1980/90) os artistas, correndo todos os riscos imagináveis, acordassem às três da matina para praticar a dança. O facto é que, em nome da arte e cultura, eles praticavam Makwaela. Dizem que estavam a ensaiar.

“A prática de artes, naquele contexto de guerra, era uma actividade quase impossível. Mas pelo amor que tínhamos em relação à nossa manifestação artístico-cultural, realizámos os nossos ensaios às 3.00 horas de madrugada. Assim que apareciam os bandidos armados não nos restava outra opção senão procurar um abrigo. Fugíamos! Felizmente, nenhum dos membros fundadores do nosso grupo foi recrutado pelos bandidos armados”, recorda-se Silva Macucule.

Cerca de 20 anos depois da guerra, em jeito de quem presta homenagem ao calar das armas, Macucule reitera que “valeu-nos a destreza e coragem que possuíamos na altura. Tais valores serviram-nos de motor para prosseguirmos, contornando todas as peripécias e adversidades que se nos impunham mesmo quando, muitas vezes, o nosso canto era uma verdadeira manifestação de tédio contra a situação e um encarecido apelo para o advento da paz”.

Na verdade, Silva Saieze Macucule, Fernando Macuácua e Narciso Saieze Macucule – os mesmos que em 1988 decidiram associar as primeiras sílabas dos seus nomes para criar o Grupo de Canto e Dança Makwaela SIFERNA – são homens cuja parte essencial da sua juventude foi despendida nas actividades culturais. O jeito com que em palco se apresentam, altamente animados por um espírito dançante ao mesmo tempo que cantam como se disso dependesse a sua liberdade, revela-nos muito sobre a relação que travam com a sua manifestação de arte e cultura.

Respondendo às necessidades que o fazer do canto e dança, nos dias actuais, lhes exige eles são capazes de escudar a condição da sua precariedade social, o seu fraco poder aquisitivo de dinheiro, sacrificando-se um pouco mais, de modo que, no final, possam realizar uma excelente performance em palco.

Aliás, as roupas que usam, com particular destaque para o fato preto, acompanhado por um par de sapatos brancos – no caso do maestro principal – incluindo umas luvas e uma boina preta denunciam que eles são pessoas, em certo grau, bem-sucedidos. Até porque, raras vezes, falam das suas mágoas.

Desengane-se quem, em Quissico, ou em qualquer outro lugar da província de Inhambane, os vir bonitos, bem trajados, pensar que estão felizes com a sua condição humana. Naquele dia, aproveitando a rara oportunidade que o nosso repórter sociocultural lhes concedeu para que – por intermédio do @Verdade – se fizessem conhecer ao estimado leitor e falar sobre si, nada mais fizeram senão desabafar.

“Lamentamos tanto o facto de apesar de, permanentemente, o nosso grupo ser convidado para as cerimónias políticas do governo distrital de Zavala – o que reflecte algum reconhecimento da sua excelência – mas nunca, a par disso, ser convidado para o Festival Nacional da Cultura”, diz o maestro Macucule que acrescenta que “ainda que concorramos, despromovidos, sempre ficámos no nosso distrito.

Temos feito composições musicais a criticar o facto, mas, infelizmente, isso não tem resultados positivos. Nós somos o único grupo que pratica o canto e a dança Makwaela em Inhambane, mas jamais fomos convidados para participar em nenhuma edição do Festival Nacional de Cultura”, reitera.

Conforme argumentam, a reclamação dos SIFERNA não é obra do acaso, basta que se tenha em mente que “em qualquer evento protagonizado pelo governo distrital de Zavala, sempre que tivermos alguma oportunidade, realizamos concertos. Os governantes e o público apreciam bastante. Continuamente, nós produzimos composições musicais de modo que sempre estejamos aptos para apresentar novidades da nossa criação e criatividade artística”.

“As nossas composições musicais, invariavelmente, vão de acordo com a temática, as pretensões, as expectativas e os anseios dos eventos protagonizados pelo Governo. Por exemplo, as composições musicais apresentadas nos momentos culturais da X Conferência do Partido Frelimo ao nível do distrito de Zavala – por nós apresentadas – foram produzidas, previamente, tendo em conta essa realização sociopolítica”.

Portanto, para os dançarinos, está a tornar-se voz comum que “por mais que participemos nos certames que determinam a participação (ou não) dos artistas no aludido evento nacional, invariavelmente, não temos conseguido ser apurados”.

A raiz do problema

Fernando Macuácua, um dos membros fundadores do Grupo de Canto e Dança SIFERNA, considera que a sua colectividade artística não evolui porque, contrariamente às demais (muitas das quais têm tido a possibilidade de se apresentar no Festival Nacional de Cultura), não possui um padrinho para lhe facilitar nos processos que se envolvem na sua actividade. “Como sabemos, nos dias actuais, a vida social em Moçambique está cada vez mais condicionada ao morgadio”, comenta.

Em resultado disso, a situação em que nós nos encontramos é muito lamentável porque, “apesar de o nosso grupo ser muito bem conhecido, nem por isso nos são criadas facilidades para que possamos evoluir. Por exemplo, temos uma pretensão de produzir um DVD do grupo, mas esse plano está a correr o risco de terminar nessa pura utopia”, receia Macuácua.

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