“Por que vocês não vieram antes?”, gritavam os sobreviventes quando a polícia chegou à ilha de Utoya, na Noruega, cerca de uma hora depois de Anders Behring Breivik iniciar a chacina que deixou 68 mortos, a maioria adolescentes, na sexta-feira. Numa nação de luto pelo maior massacre da sua história moderna, pouca gente ouvida pela imprensa – com exceção dos sobreviventes – culpou as autoridades por não impedirem o ataque ou por demorarem a reagir.
Na hora do massacre na ilha, a polícia estava às voltas com o atentado a bomba provocado por Anders no centro da capital. Além disso, a reação das autoridades à chacina foi toda problemática – o que inclui a falta de helicóptero adequado para chegar à ilha e a superlotação de policias num barco que ficou cheio de água. Enquanto isso, os minutos passavam e Breivik caçava vítimas escondidas debaixo de camas, no alto de árvores, no meio de arbustos ou dentro da água.
Eram 17h26 de sexta-feira (hora local) quando a polícia de Nordre Buskerud recebeu o primeiro alerta sobre tiros na ilha. Quatro minutos depois, as autoridades notificaram Oslo, e depois de mais oito minutos pediram reforços oficialmente. Depois de outros 14 minutos, a polícia chegou em frente à ilha, mas passou outros 17 minutos a espera de um barco. “Pedimos ajuda à equipe da Swat em Oslo, que é especialmente treinada para lidar com situações armadas. Não sabíamos da extensão da situação que havia por lá”, disse Sissel Hammer, chefe de polícia em Nordre Buskerud, ao jornal Dagsavisen. “Mas não se tratou de uma espera, foram 17 minutos durante os quais preparamos-nos”, disse.
Enquanto isso, pessoas acampadas à beira do lago resolveram agir e zarparam com seus barcos para resgatarem sobreviventes na água – alguns dos quais sendo alvejados por Breivik. Um dos campistas resgatou até 50 pessoas aterrorizadas. Às 18h09 (hora local), a polícia de Oslo chegou à área e zarpou para a ilha num barco trazido da vizinha Hoenefoss.
“Quando tantas pessoas e equipamentos foram embarcados, o barco começou a fazer água, então o motor parou”, disse Erik Berga, chefe de operações policiais do condado de Buskerud. “O barco era pequeno demais e ruim demais.” Quando a equipe da Swat chegou à ilha, às 18h25 (hora local), Breivik se rendeu em dois minutos, sem resistir.
A polícia norueguesa disse estar a rever a ação, mas assegurou estar satisfeita. “Não se pode esperar uma reação melhor que essa. Estamos muito satisfeitos”, disse o chefe de gabinete da polícia, Johan Fredriksen. “Teríamos feito de novo do mesmo jeito, a não ser que recebêssemos mais recursos.” A falta de recursos, de fato, atrapalhou a operação. Além de barcos, a polícia não tinha um helicóptero adequado para levar a ilha agentes capazes de conter o assassino, que agiu motivado pelo seu ódio à imigração e ao multiculturalismo.
Mas a emissora pública NRK colocou um helicóptero sobre a ilha de Utoeya e filmou o assassino ainda antes da chegada da polícia ao local. “Nós temos um helicóptero, mas que tem uma autonomia de voo muito limitada”, disse Fredriksen em entrevista coletiva.