O mundo acompanhou na quarta-feira o gigantesco funeral do ex-líder norte-coreano Kim Jong-il, à procura de sinais que indiquem os futuros rumos do isolado país comunista, supostamente prestes a desenvolver um arsenal nuclear. As sombrias imagens exibidas pela TV estatal mostraram um cortejo fúnebre encabeçado por uma limusine que exibia um enorme retrato de Kim, que morreu aos 69 anos, no dia 17, de enfarto.
O grupo passava no meio de neve, diante de fileiras de soldados com as cabeças descobertas e abaixadas, na praça principal de Pyongyang. Um carro que levava o caixão era acompanhado por um choroso Kim Jong-un, filho caçula e herdeiro do dirigente comunista, e também por Ri Yong-ho, chefe do Estado-Maior, e por Jang Song-thaek, tio do novo dirigente e espécie de “regente” na transição. “Ver essa neve branca cair me fez pensar nos esforços do general, e isso traz lágrimas aos meus olhos”, disse a soldado Seo Ju-rim à TV norte-coreana.
Um dos mitos relacionados a Kim Jong-il é que ele podia controlar o clima, e a imprensa estatal noticiou que os dias próximos à sua morte tiveram vento e frio excepcionais. A TV local mostrou também civis a curvarem-se e a gritar “pai, pai” à passagem das limusines das marcas Lincoln e Mercedes e dos caminhões militares do cortejo.
Um locutor disse que as imagens haviam sido transmitidas ao vivo. “Eu queria que isso fosse um sonho, como pode ser verdade”, soluçava uma mulher de meia-idade. “Como pode uma coisa dessas acontecer no mundo?” Em certo momento, mulheres chorosas tiveram de ser contidas por homens que, fazendo um cordão de braços dados, impediam-nas de avançar para o cortejo. A procissão durou cerca de três horas, e terminou com uma salva de 21 tiros, enquanto a nova liderança do país assistia à cerimônia de um palanque.
Kim Jong-un torna-se agora o terceiro membro da sua família a dirigir o imprevisível regime comunista fundado pelo seu avô, Kim Il-sung. Pelo calendário oficial norte-coreano, 2012 deverá ser um ano que marque a transformação da Coreia do Norte numa nação “forte e próspera”.
A Coreia do Norte já realizou dois testes com armas nucleares, e Larry Niksch, que há 43 anos monitora as atividades do país para o Serviço de Pesquisas do Congresso dos EUA, acredita que o país levará apenas um ou dois anos para ter um míssil nuclear operacional, depois de ter produzido suficiente urânio enriquecido para a ogiva.
A perspectiva de que um líder inexperiente, que supostamente nem chegou aos 30 anos, estar de posse de um arsenal nuclear alarma muita gente. “Sim, estamos a observar e vamos analisar como qualquer mudança pode se refletir na nossa política”, disse uma fonte do governo sul-coreano, sob anonimato.